sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O que é nacional é bom

Há palavras na língua portuguesa cuja expressividade resulta da combinação do conteúdo semântico com a face fonética. Perplexo é uma delas. Pois foi assim que fiquei quando vi a capa do I de hoje.

A acreditar nas notícias – que isto da comunicação social obriga à dúvida metódica – o ME descobriu que as crianças do 8º ao 12º, de 1700 escolas, em pleno ano 2010, não sabem raciocinar nem escrever. Pelos visto houve uma equipa qualquer que em função dos teste intermédios e da performance dos nosso jovens tirou estas conclusões. Bem sei que convém sempre dar um carácter científico aos relatórios e apresentar valores numéricos e percentagens e linguagem muito científica, mas escusavam de tratar dados de quase dois milhares de estabelecimentos de ensino: eu, por metade do preço, fazia o mesmo relatório, até fazia melhor. É que este centra-se em dados obtidos em situações de avaliação formal e não traduz o aspecto mais etnográfico da observação quotidiana, que também é uma metodologia de investigação muito válida. Todos nós sabemos que os alunos quase não lêem literatura (mas lêem imenso no Messenger e no Facebook), que não pensam e que muitas vezes os nossos esforços para os levar a activar os neurónios são objecto de motins, que são incapazes de organizar o raciocínio, porque está mais ou menos desactivado, e que escrever é uma tarefa que consideram apenas adequada a entidades sobrenaturais – basta propor uma actividade de escrita com 80 palavras que temos o coro da desaprovação a pedir aulas mais apelativas, com TICs e PowerPoints e Quadros Interactivos e tal. O que o relatório não contempla é que os alunos são, actualmente, de uma pobreza vocabular atroz, que aos 16 anos desconhecem que um mago é um mágico, que têm de memorizar que a água pode ser encontrada no estado sólido, líquido e gasoso e que acham que Mussolini foi um jogador de futebol… Os tempos dos nossos jovens são outros e nós é que ainda não mudámos o paradigma escolar. Eu não posso pensar que um aluno de 13 anos, que passou a tarde do dia anterior a jogar ao Grand Theft Auto, ganhando bónus por atropelar peões na passadeira e destruir caixas multibanco, entenda um texto poético. O que eu posso esperar – e isto não diz o relatório – é a arrogância da juventude e da ignorância que me vai perguntar porque é que tem que estudar aquilo, que não tem interesse nenhum e não se percebe nada e raisparta o Camões!

A minha perplexidade não vem destas estranhas e bizarras novidades. É que ouvi, aqui há dias, que os nossos alunos sabiam mais matemática, liam melhor e não sei quê… E parece que era um estudo internacional muito fiável e que também tinha muitos números e muitos testes. E agora? O que é nacional é bom?

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Nevoeiro

Porque me parece bem terminar 2010 com as palavras seculares de um dos maiores poetas universais, em forma de prece, em jeito de profecia.

"Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade!"
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!

Fernando Pessoa

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Feliz Natal



O cantinho natalício aqui do lar. Porque eu resisto ao consumismo da época, há anos que não compro prendas e escapo dos templos de compra e venda, mas não resisto ao espírito profundamente pagão deste pinheiro cheio de quinquilharia que celebra o solstício. E os dias aumentam dois minutos de luz quotidianamente. Daqui a um mês teremos mais uma hora de luz e as árvores já terão uns rebentinhos pequeninos à espera de aparecer em verde. Por tudo isto, FELIZ NATAL ao som da melhor música de Natal de todos os tempos.


Por aqui não

Não sei bem o que fazem aos moradores, mas exeplá-los parece-me uma coisa ameaçadora, ainda por cima de forma tão assumida...

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Viva a rainha de Copas!!!!

Sócrates propôs que questionássemos a realidade. É inevitável fazê-lo de forma quotidiana, sobretudo se lermos jornais.

Não pretendo ter uma sabedoria universal que me permita entender todas as minudências cósmicas e até sou capaz de depositar alguma crença na existência de universos paralelos ou alternativos em que as leis são de outra índole, contudo há coisas nesta lusa pátria que me deixam pasmada.
É sabido que o povo português é de brandos costumes e que tirando um ou outro esquema de sobrevivência - a que agora se chama depreciativamente corrupção, mas que é uma tradição oriunda dos confins da ancestralidade portucalense - ninguém se chateia muito com nada. Não nos chateamos com política, não nos chateamos com finanças, a educação também não é pra chatear, o sistema nacional de saúde também não chateia muito, a gente lá se vai orientando, e até temos uma expressão bestial - que alguém fez o favor de me assinalar - que traduz o nosso nacional porreirismo e a nossa aceitação do caos: "não percebo nada, mas pronto". Assim, tirando as questões de futebol que inflamam os corações e que nunca percebi porquê, mas pronto, somos todos uns porreiros. Incultos, ignorantes, cada vez mais iletrados (não há relatórios externos que me convençam), mas porreiros. Agora o que eu não entendo mesmo e nem sequer encerro com o "mas pronto" é esta história dos blindados. Para que diabos precisa a PSP de blindados? Prevêem-se motins? Se nem para a dita Cimeira eles foram necessários, e ainda bem, porque a empresa não os forneceu atempadamente. Blindados para a Polícia de Segurança Pública? Para quê? Para ir na caça à multa? Para fazer vigilância à porta das escolas? É certo e sabido que, se a alma lusitana se revoltar, será fazendo umas vigílias, a cantar o "Grândola Vila Morena", a assar umas castanhas e a beber umas cervejas. Nada de motins à laia francesa, nem grega. O povo é sereno, como dizia o outro. Esta malta saberá o que anda a fazer?

A rainha de Copas é que tinha razão: "Cortem-lhes a cabeça!"

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Há um estudo sobre isso, é o que eu sempre digo

Há estudos muito giros. Tenho pena que normalmente usem ratinhos para desenvolver experimentos (os cientistas fazem experimentos, o povo faz experiências), pois os ratinhos são uns bichinhos impecáveis que não mordem, não mentem, não congelam salários, nem fazem gestões ruinosas que convidam o FMI, que, como o PM diz que não vem, já deve ter data marcada para visitar o nosso quadrado de terra à beira mágoa plantado. (Rectângulo, OK.)
Depois de aturadas pesquisas, os cientistas descobriram nos seus experimentos que nascer no Verão ou no Inverno tem influência na personalidade que desenvolvemos ao longo da vida. Agora só falta provar que os psicopatas serial killers nasceram praí todos em Novembro ou Dezembro e é por causa da falta de luz do sol que deram no que deram. Claro que para cada teoria há uma contra-teoria, é a beleza da ciência, e eu também gosto desta opinião de Vargas Llosa, que diz que seríamos piores do que somos sem os bons livros que lemos. Esta não tem fundamento científico, pois falta o experimento e eu tenho para mim que deve ser difícil pôr ratos a ler bons livros.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Padel? O que é isso?

Há meia dúzia de anos atrás, desloquei-me de propósito ao El Corte Ingles de Vigo, com o firme propósito de adquirir umas raquetes de padel, cuja aquisição era inviável pelas lusas terras. Claro que eu desconhecia a existência desse desporto e comprei-as para jogar ténis de praia. Diverti-me imenso nesse Verão, mas depois abandonei-as, pois, quando voltei ao meu ténis a sério, a raquete a sério estava sobredimensionada e vi-me à rasca. Desde então, jogo 10 minutos de "ténis de praia" com as crianças e depois deixo-as entregues à sua sorte.
A primeira vez que ouvi falar em padel foi através de um espanhol muito simpático, que queria aulas de português, e que me explicou que esta modalidade tinha surgido devido à escassez de terreno para dotar determinados condomínios de verdadeiros courts de ténis. Assim, a raquete é curta e o campo é curto e a "pelota" tem pouco "rebote". Achei piada e arquivei o padel.
Para minha surpresa, descubro aqui que existe uma Selecção Nacional de padel, que esteve agora no México. 16 atletas, algumas velhas glórias. A Federação Portuguesas de Ténis no seu site diz que "O padel será integrado na Federação Portuguesa de Ténis a partir de 1 de Janeiro do próximo ano." Ora bem, se só para o ano é que esta "modalidade" faz parte desta Federação, quem é que arcou com as despesas? Fui ver preços ao site da TAP: só os vôos Lisboa-Cancun ficam por cerca de 4400 Euros, que se multiplicam por 16 atletas, mais 1 ou 2 treinadores. Isto dá 79200 Euros só em vôos!! Falta tudo o resto, sim porque imagino que, no mínimo, os atletas aufiram qualquer coisa pela semana que gastaram nisto. Quem pagou? Considerando que o Campeonato Nacional de Ténis nem sequer tem prize money, estes milhares de Euros podiam seguramente ser utilizados para vivificar uma modalidade a sério, digamos, o ténis, sei lá, em vez de subsidiar uma semana de férias no México, a jogadores de uma coisa inventada por empresários da construção civil com falta de espaço.
Considerando a crise, o desemprego, o congelamento de salários, a fome que existe neste país, estas coisas até me põem doente....

sábado, 4 de dezembro de 2010

Worldpress Photo

Sei que as fotos expostas traduzem o trabalho de fotógrafos profissionais nas mais variadas partes do mundo, mas ano após ano vejo o retrato da dor e da morte. Para algumas olhei de soslaio, como a de uma lapidação não sei onde, nem quis averiguar. Outras revoltaram-me, como a do jovem judeu a humilhar a senhora palestiniana, e outras lembraram-me que todas as nuvens escondem o sol...

Gostei desta: é um guarda-rios a apanhar a sua refeição.

E desta, só porque gosto deste tipo de fotografias.

O dia correu numa de GeoCaching sem a minha fiel Nikon, reduzida ao Nokia, que para um dia com esta luz acabou por se portar melhor do que esperava. É verdade que não é a máquina que faz o fotógrafo, mas hoje lembrei-me da minha primeira câmara, que comprei praí aos 18 anos, uma Welica, que fazia "tóing!" quando apertava o obturador, de um tempo em que tinha que controlar a velocidade (tinha 2!!) e a abertura na lente (fixa, de 50 mms e de plástico) e esperar até o rolo ser revelado para ver se tinha acertado nos valores e se os enquadramentos tinham resultado, por causa da maldita paralaxe... A coisa interessou-me na altura e continua a interessar. E ainda guardo a Welica, na casa da minha mãe, junto com todas as outras maquinetas que fui comprando ao longo dos tempos. Menos uma: uma Praktica Mtl5B, da Alemanha de Leste, do tempo em que isso existia, com umas esquisitíssimas e raríssimas lentes de rosca, que pesava uma tonelada e que me foi roubada junto com o carro. Foi a minha primeira reflex e tinha um ponto de focagem diabolicamente difícil.
A fotografia é uma arte mágica e é verdade que a máquina não faz o fotógrafo, mas que uma Nikon D80 permite tirar umas fotos in comparavelmente melhores do que uma Welica...


E do que um telemóvel, embora estas até estejam catitas.














segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Seguir as instruções?

Depois de introduzir a palhinha, levar o copo à boca....
Talvez se tenha perdido algo na tradução.

domingo, 7 de novembro de 2010

Porque me sinto Josef K.

Dou aulas há mais de 20 anos. Em 2004 – graças a um Mestrado – subi para o 8º escalão. Em 2005 congelaram-me. Quando me descongelaram – em 2008 – passei para o 6º escalão, porque entretanto mudaram a carreira e distinguiram professores titulares de professores. Eu era professora. Resultado: a minha progressão seria exclusivamente para o 1º escalão da carreira de titular, sujeita a vagas e à apresentação de um trabalho científico-pedagógico. Abriram uma aplicação para esse concurso em Agosto de 2009, mas nunca houve concurso.

Em 2010 publicaram um novo Estatuto – ou uma alteração ao antigo – e acabaram com os titulares. Agora há um 7º escalão, em Agosto de 2010 não havia. Podia ter subido em Outubro, mas não posso. Parece que tenho que pedir uma apreciação intercalar e depois ir para uma lista nominal qualquer a ser definida a nível nacional, algures num tempo impreciso. E se tiver aulas assistidas e Muito Bom ou Excelente evito a lista. Mas isso é a avaliação de 2007-2009, a época em que não existia 7º escalão e só subiria para titular com o tal trabalho, sendo irrelevante a classificação. Em 2009 não era relevante. Em Agosto de 2010 não era relevante. Agora é relevante. E eu não posso agora ter as aulas observadas e dizer que se reportam a 2007-2009?

Bem, desde que não me prendam…

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Bye bye Dementieva

Este ano tem sido uma coisa medonha! Todos os meus tenistas favoritos estão a terminar a carreira. Há coisas a que a gente se habitua, caramba, do género esperar que um dia a Dementieva ganhe um Grand Slam. Pois. Foi com uma surpresa relativa que hoje a ouvi anunciar que ia pendurar a raquete. A jogar o Masters. Podia ir até ao Australian Open, ao menos... Agora estou um bocado a modos que sem tenistas preferidos. Sobra o Nadal, mas esse é o preferido de muita gente.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A mais bonita canção de amor de sempre


Incomparável. Shane McGowan e os Pogues. A única banda capaz de chorar de uma forma alegre. Para ouvir nos momentos em que as forças cósmicas se alinham contra nós e já agora também nas alturas em que, como diz Pessoa, "a vida é jovem e o amor sorri"...

Now the song is nearly over
We may never find out what it means
Still there's a light I hold before me
You're the measure of my dreams
The measure of my dreams

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Regresso às origens

Há muitos muitos anos atrás, quando decidi jogar ténis e comprei uma raquete de madeira (que me custou 300 paus e que namorei durante umas semanas, pois era uma fortuna), a existência de courts era exígua. Havia no Boavista e em mais 2 ou 3 sítios, mas todos os outros eram absolutamente destinados a uma elite na qual eu não me integrava, nem integro. Fiz-me sócia do Boavista apenas para poder aceder aos courts, pois não tinha dinheiro para aulas, e quem se torna sócio de um clube fica, de certa forma, adepto para sempre.
É verdade que acabei a treinar nas Antas, perto do Dragão, mas agora voltei à base, ali ao Bessa XXI, e enquanto treino as esquerdas cruzadas e as direitas ao longo, vejo a pantera e recordo com desgosto que este clube tem o estádio penhorado. Na minha vida, devo ter visto 3 ou 4 jogos de futebol, todos do Boavista, e este Domingo fui ao voleibol ver o meu clube. Para o ver, tive de ir para o outro lado da cidade, para o Ameal, para o polidesportivo da Pêro Vaz de Caminha. Coisas que me fazem espécie.

As meninas ganharam. Ao menos isso.

sábado, 16 de outubro de 2010

Inspirações

Em Roland Garros, este ano, fiz questão de ver esta atleta jogar. Perdeu a partida em pouco tempo, mas derrotara a Safina e devia estar a jogar o circuito de veteranos.
Kimiko Date Krumm, 40 anos, a derrubar atletas do Top 10 e a jogar finais de torneios WTA. Pequenas coisas que nos inspiram a lutar para provar àquelas pessoas que nos dizem "Tu já não tens dedinhos para aprender a tocar guitarra." que nós somos e fazemos aquilo que metemos na cabeça que queremos ser e fazer. Não há-de ser muito difícil, tocar guitarra...

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Vintage


Lloyd Cole & The Commotions - Jennifer She Said .mp3

Talvez Mr. Cole tenha razão "We're to old to be singing this song.", mas há coisas que nunca mudam e o amor durará sempre para sempre.

But you change with the weather
You change with the weather
And this is the rain...



domingo, 10 de outubro de 2010

Do desassossego

O “Livro do Desassossego” não é, em boa verdade, um livro. É um conjunto de fragmentos de ideias, sonhos, reflexões, questionações… Não há propriamente uma ordem para a sua leitura. Nele colhe-se uma ideia, descobre-se uma reflexão, pesca-se um sonho. Redigido por um insignificante ajudante de guarda-livros, revela-se uma pequena bíblia que pode (des)orientar um qualquer acólito.

O “Filme do Desassossego” tenta ambiciosamente apropriar-se destes escritos e, com um pequeno fio narrativo, apresenta-nos um Bernardo Soares que percorre melancolicamente as ruas de uma Lisboa sórdida e decadente, preso num interstício entre aquilo que é a realidade externa e aquilo que não é. Os seus pensamentos são os pensamentos de todos nós, e, portanto, qualquer um dos transeuntes pode articulá-los, ainda que não exista. Fadistas vagabundos e aciganados, gays, strippers, cocainómanos, sem-abrigo, vadios de taberna, miseráveis do high-life, não falta nada neste filme. É a tentativa de chegar à condição humana pela decadência da individualidade humana. Esta visão da cidade de Pessoa coincide com aquilo que eu sinto de cada vez que sou obrigada a lá ir: um antro de perversões, mais ou menos escondidas. Impossível a simpatia e a empatia. Se Soares recusa o colectivo, porque ele é uma prolixidade de eus, que vive a vida do lado de fora, até ser apenas aquele nada é, porque nada foi, eu recuso este filme, que me põe a ouvir do lado de fora aquilo que já pensei e ainda não pensei. Cansa e é todo ele um exercício de perversões da inteligência que não faz jus à obra de Soares. Não com um protagonista aleijado que percorre a vida e a cidade como quem se ressente da vida e da cidade. O que eu até acho compreensível, com uma cidade como aquela Lisboa. A fotografia é bonita, contudo, apesar dos olhos arregalados.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Superbactéria vem aí? Nã, já cá está há muito


Seria preocupante esta notícia, se nós por cá não estivéssemos absolutamente dominados por hiperbactérias e megavírus, resistentes e imunes a tudo, com efeitos absolutamente devastadores ao nível da auto-estima nacional, da Educação, das contas públicas e até do meu poder de compra pessoal. Não há antibióticos que as detenham. Eu até acho que o Apocalipse está à porta: fomes, guerras e pragas. Eu pelo menos tenho rogado bastantes, ultimamente. Pragas e alguns palavrões.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

De tempos a tempos...


De vez em quando aparece um livro que dá vontade de ler do princípio ao fim, enquanto os olhos não se cerram de cansaço e de sono, e nem interessa de são livros da Agustina Bessa Luís (boa coisa para os intelectuais, mas que eu não suporto), ou de um sueco morto prematuramente e chamado Stieg Larsson. Pois bem, ando às voltas com a Lisbeth Salander e ando absolutamente deliciada. Há muito que não lia umas coisas envolvendo cyberpunks e a sua atitude de solitário e marginal, com um QI acima da média e habilidades incomuns, e foi com prazer que descobri esta saga Millennium. Vou no segundo volume, traduzido para português como "A Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e uma Caixa de Fósforos" e cada vez gosto mais da personagem. Depois de tantos anos a estudar literatura e linguística e a estabelecer - ou a tentar perceber - o conceito de literariedade, eis que mando tudo isso às urtigas, ou a um sítio menos picante mas igualmente desagradável, para me relaxar a perceber a organização mental de uma jovem cyberpunk no limiar da psicopatia. Coooooool!!!

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Murcharam a nossa festa, pá

Vale a pena visitar o Centro Português de Fotografia e relembrar pela imagem os últimos 100 anos da nossa História. Vale a pena ponderar se a História de repete ou não...


Sei que está em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor no teu jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, que é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim

Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto de jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim

Chico Buarque


Eu sou português
aqui
e trago o mês de Abril
a voar
dentro do peito.

José Fanha

(Directamente da costela esquerda, aquela que põe os cravos vermelhos na jarra, em Abril, e que ainda acha que deve manter a outra costela, aquela da roupa preta, das botas da tropa, das pulseiras com picos e dos cabelos espetados. Oi! Oi!
Fight the bloody power!)


quarta-feira, 22 de setembro de 2010

domingo, 19 de setembro de 2010

Parabéns ao Tomás

O título engana. O jovem terminou, de facto, o liceu, embora este termo tenha sido, nos dias de hoje, substituído pela expressão "Ensino Secundário". Que o tenha feito ao abrigo do Programa "Novas Oportunidades" é perfeitamente irrelevante para o caso. Pelo que é dito na legenda da imagem, o Tomás fez exame a inglês e teve 20. Ora isto é importante e deve ser ponderado com cuidado: um 20 não é para qualquer um. Há por aí muito engenheiro diplomado que não conseguiria seguramente obter esta classificação num exame de inglês. Atrevo-me mesmo a dizer que poucos serão os alunos do ensino regular que conseguem um 20 em exame. A verdade é que o Tomás tem mérito. Tem o mérito de ter regressado à escola, ter concluído os seus estudos, ter realizado um exame e ter obtido uma classificação ao alcance de poucos. Seria interessante desenvolver um estudo para apurar quantos concluem o Ensino Secundário ao abrigo das N.O. e acedem ao Superior. Deve ser uma minoria minoritária. O mesmo já não pode ser dito dos alunos dos Cursos Profissionais e esta é uma injustiça muito superior.
De facto, começa a haver uma migração bastante substantiva para estes cursos, pois muitos dos Programas são uma réplica modular dos do ensino regular e um jovem verdadeiramente motivado acaba estes ciclo de estudos com uma média elevadíssima e com uma preparação académica válida para o acesso à faculdade. Realizar uma prova de acesso aproveitando os recursos que a escola proporciona (Sala de Estudo, Apoio aos Alunos, Oficinas de Línguas, de Matemática... etc) para desenvolver a preparação para a realização dessa prova é muito simples. Tenho visto muitos alunos deste cursos profissionais acederem ao superior sem qualquer tipo de dificuldade, até porque os Exames Nacionais são quase todos feitos na Rua Sésamo.
Nós, professores, queixamo-nos à exaustão que os alunos estão cada vez menos preparados, que o grau de iliteracia é cada vez maior, etc etc etc. Eu assisto a coisas indescritíveis: uma finalista universitária incapaz de ler o horário da CP, alunos que consideram que os comboios espanhóis são sempre mais rápidos do que os portugueses, porque demoram sempre menos uma hora a chegar... e outras anedotas. Que o Tomás tenha acedido à Universidade via um 20 obtido em Exame não me incomoda. Tem algum tempo para comprovar se merece lá estar ou não. Que alunos medíocres que acedem a Universidades privadas de terceira escolha concluam a Licenciatura com 18 de média e acedam aos Mestrados das públicas de primeira escolha às quais não haviam tido acesso antes preocupa-me mais. Que os alunos dos Cursos Profissionais recebam uma formação grátis, sem terem que pagar um livro, uma fotocópia ou uma visita de estudo, que chateiem quase toda a comunidade escolar, que façam 3,4, ou 5 vezes o mesmo teste até terem aprovação e depois disto acedam ao Ensino Superior incomoda-me mais. Quando olho para os meus alunos das turmas regulares, os jovens que querem ir para Medicina, ou Engenharia, ou Economia, ou Arquitectura e lhes explico que cada vírgula fora do sítio e que cada acento gráfico por colocar são objecto de penalização, enquanto na sala ao lado os alunos do Profissional estão em Visita de Estudo às Caves do Vinho do Porto, sinto toda a parvoíce de um sistema que pouco tem de educativo. Quando olho para o recibo do meu vencimento e vejo os descontos que faço e pondero - apenas por nano-segundos - para onde vai esse dinheiro, até eu penso se não haverá Novas Oportunidades para mim. Longe da "austera, apagada e vil" pátria lusitana.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Anedotas ou tendências para a ficção?


Esta entrevista só pode ser uma anedota! É inacreditável como se consegue não ter ideia nenhuma do que é uma escola e de como ela funciona e ser Ministra da Educação. Na realidade em que vivo, os Exames Nacionais são genericamente facílimos, a família demite-se regularmente da educação dos jovens e as aulas de substituição são muitas vezes passadas a ver filmes, a jogar à batalha naval ou a ouvir iPod. A escola não caminha no sentido da qualidade, os Programas são desajustados ao século XXI, não estabelecem diferenças entre o chamado ensino regular e os cursos profissionais e o chumbo já é, muitas vezes, uma anomalia, sobretudo nas escolas onde os alunos sabem menos e são mais indisciplinados, pois são tantas as medidas de apoio e de complemento e de psicologia que se torna inviável chumbar determinadas alminhas. E eu não entendo porque é que uma criança que não traz livros, se recusa a realizar as actividades propostas, falta que se desunha e não adquire conhecimentos não pode chumbar. Caramba, até o nosso Presidente da República chumbou. E outros não o terão feito porque, enfim, tinham faxes...

domingo, 12 de setembro de 2010

Volta o Governo Sombra

Após a silly season, o regresso do bom senso e da única forma que um cidadão comum tem para saber o que realmente se passa em Portugal e no resto do Universo. Às sextas, na TSF .
Em alternativa, o podcast http://tsf.sapo.pt/blogs/governosombra/default.aspx. Já lhes andava a sentir a falta há muito.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Damn lawyers


Red: You're gonna fit right in. Everyone in here is innocent, you know that? Heywood, what you in here for?
Heywood: Didn't do it. Lawyer fucked me.


"The Shawshank Redemption". Vale a pena recordar esta prisão que encerra apenas inocentes. Todos tramados pelos advogados.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Rumores e suspeitas

(foto FPT)
Desde há muito que ouço, em conversas de balneário, rumores acerca deste ou daquele atleta relacionando-o com a utilização de drogas e substâncias que lhe permitem melhorar a performance. Não tenho muitas ilusões acerca disso, acredito que estes jovens lançam mão a tudo aquilo que lhes possa dar uma margem de vantagem sobre os outros. Já tinha ouvido umas coisas acerca desta jogadora, que já foi minha adversária, e agora, que se furtou a um controlo antidoping, os rumores tornam-se praticamente certezas. O que é de lamentar é que estes controlos não seja feitos com uma regularidade maior e em todo o tipo de torneios, pois, a acreditar nos rumores, esta história já tem anos e pelo caminho houve muitas vitórias que, a confirmar-se a veracidade das suspeitas, foram imerecidas, às vezes até contribuindo para a desmobilização de algumas atletas. Não lamento que a carreira desta jovem esteja em risco, caso realmente seja verdade que recorre ao doping, lamento é que todos os outros batoteiros não sejam apanhados. Alguns escreverão livros daqui a uns anos...

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A confirmação

(foto jornal Público)
Ando há anos a perguntar se alguém conhece alguém que tenha sido multado por excesso de velocidade na VCI e tenho tido consistentemente resposta negativa. Como circulo nesta via todos os dias, frequentemente várias vezes ao dia, já constatei que as luzes que avisavam que o limite de velocidade era 90 deixaram de funcionar e há muito que deixei de ver os flashs associados à captação do retrato das matrículas dos prevaricadores. Já tinha lido na imprensa que os radares estavam inactivos, mas não pensava era que a situação se arrastava desde 2007. A VCI é um animal complicado. Tinha uma amiga que tinha suores frios quando tinha que circular por ela e evitava isso a todo o custo. A verdade é que esta via tanto permite andar a 120 como nos obriga a estar parados horas. Já demorei perto de 3 horas para ir das Antas ao Campo Alegre, um percurso que se faz em 5 ou 6 minutos, a menos de 90. Os radares, contudo, continuam lá e o povo continua a travar antes da caixinha, para acelerar assim que ela é ultrapassada e ali, perto do Dragão, é chatinho travar, que a VCI desce muito. Bem, agora vou deixar de realizar esse ritual. As caixinhas ficam lá bem, dá um ar cosmopolita à Invicta. Há, porém, outras caixinhas que andaram a pôr nas SCUTs que já não ficam tão bem. Eu entendo bem que devo pagar se quiser utilizar uma auto-estrada para ir do Porto a Viana em 45 minutos, pois a Nacional 13, a alternativa, existe, ainda que me consuma mais de hora e meia para fazer o trajecto. Agora já não entendo a razão que me obrigará a pagar portagem para fazer os 2 ou 3 quilómetros entre Gulpilhares e Arcozelo, precisamente no troço em que a SCUT comeu a Nacional 109.
Como diria De Gaulle: "Este não é um país a sério." É pena, porque os nossos 8 séculos e tal de história mereciam ter engendrado um povo menos estúpido.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Mudam-se os tempos e o Cascão já toma banho


Esta era a turma da Mônica, assim mesmo, com o acento e tudo. Li dezenas de BDs desta turminha e deliciei-me com as manias das personagens: a Magali, que comia tudo o que podia, o Cascão, que fugia do banho mais rapidamente que um vampiro (dos a sério) do alho, o Cebolinha, que trocava os erres por eles e tentava infrutiferamente organizar o universo da sua rua e a Mônica que, com o seu coelho, a sua dentuça e o seu mau génio, orquestrava o caos. Pois estes pequenos heróis cresceram e foi corrigido tudo aquilo que os tornou tão apelativos, ou seja, todas as suas falhas e defeitos que os aproximavam de todos os miúdos que, como eu, tiveram a fortuna de crescer e brincar na rua. Agora já não há disso e os miúdos de oito e dez anos já não se deixam seduzir por heróis imperfeitos: adoram vampiros que bebem um sangue artificial e já não se consomem em chamas e cinza perante a luz do sol. E a bonecada das histórias aos quadradinhos tem que ser fashion.










A Magali come comida saudável, pratica desportos aeróbicos e o Cascão, esse incompreendido, virou miúdo dos desportos radicais.
Esta é a Mônica, sem coelho e com scooter cor-de-rosa. Pelos vistos tem uma "amizade colorida" com o Cebolinha... Onde está a "dentuça"?

Este é o Cebola, o diminutivo desapareceu e o defeito da fala também.
Tenho uma amiga que, quando se choca com aquilo que se passa no mundo, termina a discussão com uma expressão que é a súmula daquilo que pensa: "Isto não tem jeito nenhum!"
Faço minhas as palavras dela. Nenhum.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Season muito silly

É cada vez mais assustador este desgoverno e este desrespeito pelo cidadão comum, que tenta organizar e planear a sua vida num país onde tudo parece feito através da inspiração do momento. A gente vai de férias e quando regressa a realidade mudou. Eu conheço gente que foi de férias e, na véspera de voltar ao trabalho, recebeu um telefonema a dizer "olhe não vá que já o substituímos". Trabalhadores do Estado, obviamente.
Os resultados estão bem à vista, mas às vezes até escapam aos olhos mais treinados.

Enfim, nada que uma voltinha nos carrinhos de choque não cure. Pelo menos até ao fim das festas e romarias. Depois sempre quero ver.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Dia Mundial da Fotografia

Visões de Agosto, longe da praia.



sexta-feira, 30 de julho de 2010