quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Agora de Alexandria

Os filmes de época têm a particularidade de me distanciar bastante do enredo, uma vez que passo o tempo todo a pensar “Tanto drama para quê? Esta gente já está toda transformada em pó.” Depois ocorre-me que os meus dramas serão pó daqui a mil anos e entre uma coisa e outra acabo por me concentrar nos cenários, nos ângulos de filmagem, na luminotécnica e nas particularidades linguísticas dos discursos e acabo por perder o fio à meada.

Ontem calhou ir ver o “Agora”. Não sabia nadinha sobre o filme, mas uma amiga tinha-mo recomendado, com o argumento subjectivo de que era fabuloso e gostava de o ver outra vez. Não entendo porque carga de água ela o quer ver outra vez. É um filme que incomoda imenso, tem cenas violentíssimas e o pior é que a ideia de que foi há quase 2000 anos que tudo aconteceu não nos traz grande conforto.

A acção desenvolve-se em torno da Biblioteca de Alexandria, na altura da decadência do Império Romano e da ascensão do cristianismo, e foca uma mulher, que existiu deveras, chamada Hypatia, uma filósofa pagã, que tinha uma obsessão pelo saber que, de certa forma, endeusava. No meio do colapso de uma cultura e da ascensão de um poderio religioso que iria marcar o milénio que se seguiu, esta sábia preocupava-se com as rotas dos planetas e com a organização dos céus, avançando teorias que só seriam redescobertas 1200 anos mais tarde. Persistente como um cego teimoso. Não sei se a luminotécnica estava no seu melhor, porque não me abstraí do enredo. Não era possível. O fanatismo religioso dominou-me as retinas e os apedrejamentos de cristãos, judeus e romanos não me permitiram a constatação de particularidades linguísticas relevantes. Ok, corria o ano de 391, já tudo aquilo é pó e estou fartinha de saber que, vaga após vaga de catástrofes naturais e de exércitos de culturas diversas, a Biblioteca de Alexandria foi sendo destruída, até ao golpe final dado pelos Árabes. Mas há algo de obviamente actual naquilo tudo que perturba e que vai para além das evidentes tensões religiosas do nosso quotidiano: o desprezo pelo saber e pela vida que têm os fanáticos ignorantes, o desejo de poder que move os homens, a busca de respostas para os grandes e pequenos enigmas do universo e, sobretudo, a ideia de que tudo aquilo que nos separa uns dos outros não nos torna diferentes uns dos outros. Não há heróis nesta história e a Hypatia aconteceu aquilo que a História registou.

Por definição uma narrativa tem sempre uma moral. Eu não sei bem qual é a que “Agora” encerra, talvez não haja moral nenhuma, talvez seja, como diria Homer Simpson, “just a bunch of things that happened”, ou talvez esteja nas palavras de Davus, o escravo que se tenta encontrar como homem ao longo de todo o filme: “Fui perdoado e agora não consigo perdoar.” Ou nas sábias palavras de Camões: Ó grandes e gravíssimos perigos! Ó caminho de vida nunca certo: Que aonde a gente põe sua esperança, Tenha a vida tão pouca segurança! Onde pode acolher-se um fraco humano, Onde terá segura a curta vida, Que não se arme, e se indigne o Céu sereno Contra um bicho da terra tão pequeno? Talvez isto justifique a visão da Terra a partir do espaço e todos os ângulos em picado. É que os cenários e os pormenores de realização não me escaparam… E não quero ver o filme outra vez. Já sei que as órbitas dos planetas são elípticas.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

O que queria neste Natal

Ricardo Reis, Sophia, Startrek e Schwarzenegger

Ricardo Reis, o heterónimo da ataraxia, propõe uma filosofia de vida assente na calma contemplação do fluir dos eventos, sem esforço nem perturbações, pois somos impotentes perante a passagem do tempo, “o deus atroz/ que os próprios filhos/ devora sempre”. Em sua homenagem escreveu Sophia um poema belíssimo, que na minha humilde opinião convida à vida e não à contemplação:

Não creias, Lídia que nenhum estio
Por nós perdido possa regressar
Oferecendo a flor
Que adiámos colher.

Cada dia te é dado uma só vez
E no redondo círculo da noite
Não existe piedade
Para aquele que hesita.

Mais tarde será tarde e já é tarde
O tempo apaga tudo menos esse
Longo indelével rasto
Que o não-vivido deixa.

Não creias na demora em que te medes.
Jamais se detém Kronos cujo passo
Vai sempre mais à frente
Do que o teu próprio passo

Dual, de Sophia de Mello Breyner Andresen

Sim, “Jamais se detém Kronos”, esse deus atroz. Não o podemos combater. Quando Kronos ainda não tinha avançado tanto, eu era fã do Startrek, não cheguei a ser trekkie, mas andava lá perto, com cumprimentos como o popular “live long and prosper” ou o célebre “ka’plah” klingon. OK, OK, talvez não seja assim tão célebre. Apesar de o meu entusiasmo trekkie ter diminuído, continuo a encontrar nos recantos da minha memória pequenas frases de filmes e de episódios que corroboram muitas das filosofias de vida de autores consagrados, o que, a meu ver, comprova que a série até era uma coisa de gabarito. Uma delas ficou-me sempre no ouvido: “time is the fire in which we burn”, tirada de um poema de Delmore Schwartz e dita por Soran, que tentava combater esse deus atroz, ainda que para tal tivesse que destruir tudo o que existe. Não o conseguiu, evidentemente, o Capitão Kirk derrotou-o e salvou o universo, embora tenha morrido para o fazer. Ironias.

É realmente lamentável que Kronos não se detenha, porque os seus efeitos são absolutamente devastadores. E embora não adiante lutar, como diz Sérgio Godinho:

Mas como se costuma dizer
tem que ser
porque parar, nunca
Ficar parado?
Antes o poço da morte
que tal sorte

sábado, 19 de dezembro de 2009

There is no spoon!

Spoon Boy: Do not try and bend the spoon. That's impossible. Instead only try to realize the truth.
Neo: What truth?
Spoon Boy: There is no spoon.
Neo: There is no spoon?
Spoon Boy: Then you'll see that it is not the spoon that bends, it is only yourself.


terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Dias em que as coisas mudam


Sempre fiz praia em Gaia. Os meses de Verão foram passados, desde que me conheço, entre a Aguda e Salgueiros. Vou alternando as praias: ora Valadares, ora a Madalena, ora a Aguda... Há quem prefira uma, há quem prefira outra e eu, desde que seja na minha terra natal, posso ir para qualquer uma delas. Conheço-lhes as rochas, os contornos, os sítios onde se apanham mais beijinhos... Sei onde estão os surfistas, os jogadores de vólei, onde param os cães mais e menos agressivos, conheço as tábuas dos passadiços, por onde corro ao final do dia, quando a meteorologia o permite. Na minha memória tudo está sempre onde deve estar.
O tempo não me tem favorecido as corridas à beira-mar, chove, faz frio e a luz do dia desaparece muito cedo.. Há algum tempo que não vou correr e ver o mar. Fui hoje, fazia-me falta e, no meu percurso, deparei-me com as alterações do Inverno. E não só nas cores do mar e do céu, mas nos próprios contornos da corrida que me aguarda. Tudo muda e até o caminho mais conhecido pode ficar diferente de um dia para o outro.

sábado, 5 de dezembro de 2009

O Google faz de nós estoopidos?

Umberto Eco é, entre outras coisas, o autor de um dos mais fascinantes romances do século XX - "O Nome da Rosa". É também um estudioso dos fenómenos ligados à comunicação de massas, pelo que a sua opinião é sempre de considerar.
Há já algum tempo que conclui que o sistema de Ensino - o português, evidentemente, que é o que conheço bem - está completamente desajustado. Os miúdos manobram as ferramentas informáticas com uma destreza verdadeiramente impressionante. As matérias das aulas e, sobretudo, a forma como são trabalhadas fazem de nós, por vezes, verdadeiros pitecos a tentar acender uma fogueira com duas pedras, tendo o isqueiro mesmo ali ao lado. Tenho usado as novas tecnologias nas minhas aulas, de forma pensada e reiterada. Contudo, tenho algumas dúvidas em relação à sua eficácia. É certo que os meus jovens alunos se maravilham perante o uso do quadro interactivo e é também certo que apresentar "O Sermão de Santo António aos Peixes" via documentário da RTP é muito mais interessante do que lê-lo apenas, ou até ouvi-lo inflamadamente declamado por Ary dos Santos. O meu problema reside no binómio eficácia/diversão. Há muitos anos atrás li um ensaio que defendia a ideia que nós não retemos nada daquilo que vemos na TV, que ver televisão era uma espécie de sono, cujos sonhos se iam desvanecendo . Eu creio que é isso que acontece nestas aulas interactivas e multimédia. Há poucas semanas, li que os jovens ingleses, numa grande percentagem, não sabiam quem era Adolf Hitler e pensavam que era um treinador de futebol. No entanto, basta-lhes um clique para terem acesso a 1 900 000 entradas sobre o Fuhrer.
Uma tragédia tem, por definição, um herói trágico, aquele que sem consciência do seu destino caminha inexoravelmente para a catástrofe. Eu não sei bem quem é o herói, mas quando peço aos meus alunos para irem ao centro de recursos seleccionar um soneto camoniano de que gostem, eles regressam frustrados e de mãos vazias, porque a Internet não está a funcionar, ou porque os computadores estão todos ocupados. "E então os livros??? Estão lá dezenas de livros de Camões à vossa espera!!" "Ó setora, por amor de Deus!".

Quem souber inglês e gostar de coisas bem esgalhadas é só ir a http://www.theatlantic.com/doc/200807/google

"And what the Net seems to be doing is chipping away my capacity for concentration and contemplation. My mind now expects to take in information the way the Net distributes it: in a swiftly moving stream of particles. Once I was a scuba diver in the sea of words. Now I zip along the surface like a guy on a Jet Ski." Nicholas Carr

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Bye bye Mauresmo

Amelie anunciou hoje que deixava o ténis profissional. Vou ter saudades daquela esquerda a uma mão e do ténis aguerrido e diversificado que hoje pouco se vê no circuito feminino. Valha-nos o regresso anunciado de Justine.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Ai a chuva no dia da Restauração!

Ontem fui fazer umas fotos. Fotografias do Verão que ainda não tinha mandado imprimir nem organizado nos álbuns. Hoje passei o dia encafuada em casa, sentada no sofá a ganhar musgo, com o portátil ao colo, a estabelecer de forma inequívoca a diferença entre a conjunção coordenativa e o conector coordenativo, com a janela aberta para deixar entrar o menor dos raios de sol que brilhasse por entre as macabras e incessantes gotas de chuva. Não brilhou nenhum. Olho para o relógio e lembro-me que a esta hora punha a coleira à cadela e calçava as Asics para ir dar a minha corrida ao pôr-do-sol. Olho com ódio a bicicleta estática e tento decidir se continuo a criar musgo ou se lhe dedico 20 minutos...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Aumente-se os impostos...


This crown gives me a feeling of power! Power! Forgive me a cruel chuckle, heh, heh, heh, power.

À semelhança dos livros de BD que lia, quando era pequenina, em que o malvado irmão do rei Ricardo Coração de Leão criava impostos sobre tudo e mais alguma coisa. Até sobre o ar e depois o Robin Hood e os amigos escondiam-se em barris a respirar por palhinhas... Lá chegaremos, ou então não.
Capa do Jornal I, 24 de Novembro

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Cá se vai andando, com a cabeça entre as orelhas

Tentando não sucumbir à indolência que estes dias pequeninos criam em nós e aos desejos de permanecer enroscadinha no meu edredão de penas a ler um Mia Couto e a sonhar com os dias de Verão, longos e quentes, em que a vida se prolonga pelo horizonte do Atlântico que nos canta ao fim da tarde. Este é um tempo de ficar, de castanhas assadas, quentes, trazidas pela mão de um amigo, de telefonar, para evitar o frio da noite que chega cada vez mais cedo, de tirar da gaveta aquelas meias felpudas que já havíamos esquecido... E começa a ser um tempo de olhar para as luzes de Natal, que também chegam cada vez mais cedo, e esperar que os dias e as longas noites de Inverno passem rapidamente.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Bye bye Marat


Marat Safin pendurou a raquete. O ténis masculino perdeu o interesse...
Sobra o Verdasco, que também é talentoso.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

This is it...

Morreu algum deles, vereis logo tantos sobre o miserável a despedaçá-lo e comê-lo. Comem-no os herdeiros, comem-no os testamenteiros, comem-no os legatários, comem-no os acredores; comem-no os oficiais dos órfãos e os dos defuntos e ausentes; come-o o médico, que o curou ou ajudou a morrer; come-o o sangrador que lhe tirou o sangue; come-a a mesma mulher, que de má vontade lhe dá para a mortalha o lençol mais velho da casa; come-o o que lhe abre a cova, o que lhe tange os sinos, e os que, cantando, o levam a enterrar; enfim, ainda o pobre defunto o não comeu a terra, e já o tem comido toda a terra.

Sermão de Santo António aos Peixes, Padre António Vieira
Pregado em São Luís do Maranhão, a 13 de Junho de 1654

sábado, 31 de outubro de 2009

Para quê?


Não se fala de outra coisa: Andre Agassi escreveu e publicou um livro no qual confessa ter sido um consumidor de anfetaminas, ter sido apanhado num controlo anti-doping e ter conseguido escapar através de uma rede de mentiras.
Para quê? Para que é que um atleta que conseguiu cativar a atenção do público durante décadas se sai com uma confissão destas dois ou três anos depois de ter terminado a carreira? Deste jogador eu pouco sabia: tinha um jogo de fundo admirável, pois tinha uma leitura de bola excelente e apanhava-a na subida, dentro do campo, o que lhe dava uma aceleração e uma capacidade de abrir ângulos extraordinárias, e era um exemplo de tenacidade, pois, em 1997, quando afundou no ranking, alegadamente devido a uma lesão, recuperou a sua posição de topo jogando pequenos torneios. Ah, e também sabia que era casado com a Steffi Graff, uma das maiores jogadoras de sempre. Agora também sei que, durante esse ano de 97, era um drogado.
Dispensava este conhecimento. Não é propriamente uma coisa surpreendente um atleta recorrer a drogas, basta lembrar o caso da Martina Hingis, que acusou o consumo de cocaína, ainda que ela o negasse. Um dia, ela lá o virá a confessar, e muitos outros virão a fazer o mesmo. A gente de uns desconfia, mas eu continuo a achar que há coisas que não é preciso saber, nem sempre aquilo que é a "verdade" vale a pena.
Este tipo andava nas anfetaminas? Surpreendente!!

sábado, 24 de outubro de 2009

Rankings e outros demónios

Dou aulas a turmas de 12º ano há vários anos. Senti fortemente o peso da responsabilidade no primeiro ano em que o fiz, ainda por cima porque tinha turmas de Humanidades, o programa era vasto e era prova específica para muitos deles. Leccionei-o o melhor que pude, tentando desenvolver nos meus alunos uma série de competências que, a meu ver, os conduziriam ao sucesso. Foi uma época de muito trabalho e de múltiplas angústias, que acabou por dar frutos em termos de avaliação no Exame Nacional e no prosseguimento de estudos destes jovens. Agora, já formados, sei que alguns ficaram nas Universidades em que se formaram e muitos deles foram alunos de sucesso e estão em profissões e em cargos de difícil acesso.

Nesse ano, numa bela manhã de Verão em que dormia regaladamente, fui acordada pelo telefonema de uma amiga a dar-me os parabéns. Tinham sido criados os rankings e a minha escola era a melhor escola pública do país. Esta situação já se repetiu em mais do que uma ocasião, mas a minha perspectiva em relação à gestão do Programa do 12º e às capacidades que devo desenvolver nos meus alunos mudou.

Hoje em dia, a par do cumprimento dos vários conteúdos programáticos, pretendo, sobretudo, desenvolver as competências que permitam aos meus alunos ter sucesso nos Exames Nacionais. Não por causa dos rankings, isso não está na minha mente, mas sim porque as correcções de exame são catastróficas e, no meu entender, pouco fiáveis para a elaboração de uma seriação. Há dois anos redigi 23 pedidos de revisão da correcção de provas que foram todos atendidos (excepto um). As provas revistas chegavam a subir 4 valores, o único que não foi atendido desceu 2 décimas. Os correctores aplicam mal os critérios e, sobretudo, evidenciam uma formatação intelectual, por vezes, aflitiva, que descobri revoltada nesses 23 pedidos de revisão: os alunos que redigiam com maior sofisticação eram os mais penalizados e aqueles que seguiam as regras minimalistas de estruturação discursiva, porque não eram capazes de mais, obtinham a cotação máxima. Assim, promover o sucesso do aluno em Exame Nacional é tão simples quando seguir uma receita para fazer um bolo:

· Redijam 4 parágrafos;
· Comecem por dizer…
· Iniciem o segundo parágrafo por “Assim, em primeiro lugar…” e depois “Exemplo disto é…”
· Comecem o terceiro parágrafo por “Por outro lado…” ou “Em segundo lugar…” e depois, “Pode apresentar-se, a propósito, o exemplo…”
·

E este é, para mim, o meu principal problema, pois é isto que me obriga a dizer: “Meninos, em situação de exame não sejam criativos. Sigam as receitas.” Nas aulas não ouso espicaçar as competências destes jovens, pois receio o insucesso. Mas penso no futuro: realmente estes jovens vão ser brilhantes nos exames, mas isso fará deles cidadãos brilhantes? Este é o meu dilema e tentar encontrar a o caminho certo não tem sido fácil, pois ajudar a construir o futuro destes jovens passa por ajudar a aceder ao seu curso de eleição o que. de uma forma perversa, me limita a possibilidade contribuir para a construção de pessoas de futuro brilhante, uma vez que a solução é a formatação e o convite ao conformismo. Isto como se sabe, ou se desconfia, não ajuda a desenvolver um país de futuro.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Para ti, porque somos todos iguais


Life and Death
energy and peace
if i stop today it is still worth it
even the terrible mistakes that i have made
and would have unmade if i could
the pains that have burned me and scarred my soul
it was worth it
for having been been allowed to walk where i walked
which was to hell on earth, heaven on earth
back again, into, under
far in between ,through it
in it and above

Gia Marie Carangi

Chamaram a isto...

..."Chocolatíssimo". É brincar com as nossas emoções: a gente afia o dentinho para aquilo que a nossa imaginação concebe como um chocolatíssimo, o que é sempre algo de superlativo, e depois a decepção é também ela superlativa. Acho que neste caso a montanha nem sequer pariu um rato, um gafanhoto talvez. Gafanhotinho, vá lá.
"Chocolatíssimo"!!! Grande lata!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Os passageiros do vento


A série "Os Passageiros do Vento" de Bourgeon marcou a minha entrada na idade adulta. Estava a terminar a faculdade e juntava os tostões para comprar volume após volume de uma obra que narrava gráfica e poeticamente as aventuras de um improvável grupo de amigos e amantes transportados pelas velas de grandes navios. Com excepção de Morbus Gravis, que está nos seus antípodas, nenhuma outra série de B.D. foi, para mim, tão marcante. Eis os Passageiros saídos dos confins do tempo pela mão do jornal "Público" e ainda por cima com um sexto volume que é novidade. A reler e a absorver. Há poucas coisas melhores.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Campeonato Nacional de Equipas

Em Lousada. Completamente de improviso e sem treinar... A competição é um aspecto importante da vida dos atletas, pois é nela que verificamos se evoluímos ou não e, de certa forma paradoxalmente, é também ela que nos proporciona momentos de crescimento que transcendem o nosso quotidiano "fútil e tributável", como diz Álvaro de Campos.
O ténis é, sem dúvida, uma das minhas paixões e nele tenho aprendido muito sobre mim própria como pessoa. Ele exige disciplina, rigor técnico e uma constante capacidade de superação das adversidades, que, a meu ver, são inúmeras e constantes e que, às vezes, são criadas por nós, mas, frequentemente, são mesmo criadas pela matulona que está do outro lado da rede.
E é também através deste desporto, praticado competitivamente, que tenho aprendido o valor relativo de cada pessoa. Nós não somos tão importantes como pensamos e não devia ser preciso que um Tsunami viesse mostrar-nos isso. Basta uma partida de ténis, que enquanto jogada, nos "prende a alma toda", mas depois de terminada, com vitória ou com derrota, "pouco pesa, pois não é nada". Aprendamos também com Reis.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Fim de tarde


Os meus trinta minutos de corrida à beira-mar.
Chillout e um pôr-do-sol digno de um fotógrafo com melhor equipamento... Não se pode ter tudo, é bem verdade, mas aquilo que se tem é, muitas vezes, extraordinário. E nós andamos demasiado ensimesmados para dar por isso. As nuvens não são sempre negras e carregadas de chuva, são muitas vezes de outras cores e não carregam nada. São nuvens, como diria o Mestre Caeiro, e isso devia ser suficiente para darmos por elas. Ainda que trouxessem chuva.

domingo, 20 de setembro de 2009

Já rolou

É difícil andar de scooter no Porto. Não há vias próprias para ciclomotores ou bicicletas e entre o fumo dos tubos de escape e os condutores e peões descuidados circulo um pouco temerosa.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Espero por ela...

Eléctrica. Ecológica. Para circular nas ruas do Porto. Nunca mais chega...

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Estuário do Douro e biodiversidade

Este Verão descobri as aves.
Aprendi a distinguir uma gaivota argêntea, de uma gaivota de asa escura e de uma gaivina, distingo pilritos de borrelhos. Sei o que é um guarda-rios, lindíssimo e difícil de fotografar, e já conheço os fuselos, as garças reais e também identifico uma andorinha-do-mar, estridente e com uma técnica de caça muito própria. Já sei que os bandos que ocupam os nossos céus e povoam
as
areias das nossas praias integram indivíduos diferentes.


E todos se passeiam por ali, ao virar da esquina, na Afurada, gozando dos mais bonitos crepúsculos da Europa.

sábado, 12 de setembro de 2009

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Etiquetas

É impressão minha ou a roupa agora traz sempre imensas etiquetas enormes? Até consigo perceber que as instruções de lavagem e a composição tenham que ser apresentadas em várias línguas, mas duas ou três seria um bom número. Dezasseis línguas parece-me um absurdo e, ainda por cima, não tem Português. E que diabo vêm a ser os "3% de activos cosméticos"??? A minha t-shirt tem "natural oils and fragrance which, in rare cases, may cause skin reactions. In the event of redness or irritation, stop wearing the garment." Valha-me Deus! Em vez etiquetas, deviam pôr letreiros a avisar estas coisas nas secções das t-shirts. Ninguém lê as etiquetas e ninguém sabe o verdadeiro perigo que elas encerram.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Paraísos perdidos...

Acessos difíceis, caminhadas de horas e depois pequenos paraísos. Talvez fosse boa ideia deitar-me ao sol, numa praia qualquer, em vez de calcorrear as serras debaixo de um calor abrasador.
Nã... aí não estava de férias, estava apenas inactiva.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Silly season

Ponte de Lima

under pressure


Pressure pushing down on me
Pressing down on you, no man asked for
Under pressure, that burns a building down
Splits a family in two
Puts people on streets

That's ok
It's the terror of knowing what this world is about
Watching some good friends screaming, "Let me out"
Pray tomorrow, gets me higher
Pressure on people, people on streets
Chippin' around, kick my brains around the floor
These are the days it never rains but it pours

People on streets, people on streets

It's the terror of knowing what this world is about
Watching some good friends screaming, "Let me out"
Pray tomorrow, gets me higher and higher and high
Pressure on people, people on streets
Turned away from it all like a blind man
Sat on a fence but it don't work
Keep coming up with love but it's so slashed and torn
Why, why, why?
Love

Insanity laughs under pressure, we're cracking
Can't we give ourselves one more chance?
Why can't we give love that one more chance?
Why can't we give love, give love, give love, give love, give love, give love, give love, give love?
'Cos love's such an old fashioned wordAnd love dares you to care for the people on the edge of the night
And love dares you to change our way of caring about ourselves
This is our last dance

This is ourselves under pressure, under pressure, pressure

QUEEN

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

How did I get here?


Praia

Na luz oscilam os múltiplos navios 
Caminho ao longo dos oceanos frios 
 
As ondas desenrolam os seus braços 
E brancas tombam de bruços  

A praia é lisa e longa sob o vento 
Saturada de espaços e maresia  

E para trás fica o murmúrio 
Das ondas enroladas como búzios.    

Sophia de Mello Breyner

sábado, 8 de agosto de 2009

Plantinhas que nos surpreendem

Hoje aprendi que estas folhinhas, que se não estou em erro são de acácia, não são folhinhas. Pois é, parecem mesmo folhas, fazem a fotossíntese e são... caules. Quem havia de dizer que até as plantinhas nos enganam e simulam ser aquilo que não são. Tenho a certeza que não há malícia nas acácias, embora sejam uma praga infestante, como lhe chama uma amiga. Há outras pragas infestantes, cada vez mais numerosas, que talvez pensem ser como as acácias e andem, na realidade, a enganar-se a elas próprias, pois nós só não as exterminamos, porque confiamos noutras plantinhas, naquelas que têm folhas que são folhas e que nem sempre dão flores. Mas não são pragas e, infelizmente, não são infestantes.

sábado, 11 de julho de 2009

And you try and tell the young people of today that ..... they won't believe you.

A gente cresce, deixa de ser criança, deixa de ser adolescente e aquilo que era o epítome do sublime para nós desaparece. A gente acha que o mundo muda, mas a gente é que muda e deixa de entender o mundo, pois ele continua a ter o mesmo sentido de sempre. Adultos, perdidos em quotidianos nem sempre coloridos, prestamos uma atenção marginal àquilo que aqueles que ainda não cresceram fazem, à música que ouvem, aos livros que não lêem e chegamos à conclusão que "no meu tempo é que era, agora não se lê, agora não há grandes bandas... no meu tempo é que era, era os U2, era o Michael Jackson... e agora? Quem é a Rihanna? Quem são os Black Eyed Peas? Amy Whine o quê? Já não se fazem bandas como antigamente... no meu tempo é que era..." E então o Rei da Pop morre e vejo que, afinal, os teenagers deste milénio falam dele e compram os álbuns cuja música recheou as nossas noites há quase 30 anos atrás, e falam connosco e querem saber como era naquele tempo. Alguns invejam-nos: "nesse tempo é que era", dizem. É a vingança dos quarentões e é a consciência algo difusa que, neste Verão de 2009, no meio da crise, e de um tempo que não convida à praia, há uma estranha transcendência de alguém cuja existência parece sempre ser um elo de união de raças, de filosofias, de políticas, de tempos, de idades, entre o passado e o presente, entre a vida e a memória... E quando circulo nas estradas da minha cidade e por mim passa o grito antigo de um "Beat it" do carro ao lado sinto que o tempo ainda não passou e acredito, uma vez mais, que tudo ainda é possível.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Coisas que me irritam no quotidiano


Ir a uma Repartição, ou a um qualquer serviço de atendimento, e ter de falar com a pessoa que está do outro lado através de um vidro. Nunca consigo ouvir nada do que me dizem e pareço uma debilóide a tentar enfiar a orelha pelo buraquinho, que geralmente fica ao nível da barriga, e a repetir constantemente "Como?", enquanto tento apanhar o geral da mensagem que o meu interlocutor, do outro lado, do alto do conforto do seu douto saber, me transmite, implacável, sem pausas e, frequentemente, sem sequer me dirigir o olhar. Afinal, qual é a utilidade dos vidros? A sério, para que servem? É para evitar a transmissão do vírus da gripe, que era das aves e agora parece que é dos porcos, ou é para criar em nós a sensação de que o mais certo é terem dito as coisas correctas e a gente é que não ouviu, por isso, se calhar, é melhor não reclamar?
As conspirações são como as bruxas, a gente pode não acreditar, mas...

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Moonwalk

Enquanto fazia zapping soube que morreu. As notícias eram ainda incertas - estava em coma, tinha ido para o hospital em paragem cardíaca. Não sou dada a questões mórbidas ligadas às estrelas, mas Michael Jackson foi, para mim, a única estrela, por isso estou no meu direito de estar em choque. Partilhei a notícia com uma amiga, adolescente nos eighties, e andei pelo Youtube a relembrar essa altura...
Descobri-o com "Thriller", o videoclipe que revoluciou os videoclipes, o álbum mais vendido de sempre. Tinha posters dele espalhados pelo meu quarto de teenager e ouvia constantemente os sons manhosos de "Billie Jean", "Beat it" e "Wanna be startin' somethin'" nas cassetes piratas dos eighties, bem longe dos sons limpinhos dos igualmente piratas Mp3s.
Fale-se do "preto que queria ser branco", do Bubbles, da câmara de oxigénio, onde alegadamente dormia, dos casos com as criancinhas e de outros escândalos que isso não interessa nada.

Wacko Jacko foi o maior.

domingo, 21 de junho de 2009

Chillout

No fim do dia, acompanhada pela música electro pop dos eighties.

sábado, 20 de junho de 2009

O primeiro dia

Fui à praia. É bom aproveitar o primeiro dia de praia, gozar o sol e
o sempre tranquilizador e síncopado múrmurio do Atlântico de Junho. Cheira a Verão, e a noite transporta - como todos os anos - milhões de promessas. Mas o dia tem muitas horas e o mundo muitos lugares e se as noites de Verão prometem o futuro, os dias na cidade repetem o passado e isso não permite acreditar naquilo que o ar nocturno nos traz, disfarçado de brisa, disfarçado de sonho.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Coisas que me fazem espécie

Não gosto de futebol. É um desporto violento, recheado de homens incapazes de dar um pontapé numa bola sem dizerem um palavrão, que andam aos encontrões, cabeçadas, rasteiradas e correm de um lado ao outro de um gigantesco relvado, durante hora e meia, sem que na realidade aconteça alguma coisa. A assistência excita-se toda, porque acredita que vai ser golo, mas depois não, nada. Uma seca. Serve isto para dizer que não aprecio os dotes futebolísticos do célebre Cristiano Ronaldo, por muito talentoso que possa ser, coisa que nem contesto. Aprecio o Cristiano por outras razões, longe do jogo da bola e que também nem sequer são os seus atributos de metrossexual. Acho piada assistir à elevação a ídolo mundial de um puto, incapaz de alinhavar um discurso coerente. Acho piada às reacções dos portugueses que começam a pensar que o homem é um desastre que ainda não aconteceu. Mas acho sobretudo piada ao facto de ser admirado pela quantidade de namoradas que vai tendo e pela vida estupidamente perdulária que, aparentemente, leva. Há algo estranhamente libertador nestes comportamentos de risco. Claro que me faz espécie que a Europa ande um pouco atordoada com os milhões - parece que foram mesmo mesmo muitos - que um clube espanhol pagou, ou vai pagar, por ele. Um escândalo qualquer. Na minha óptica, a Europa devia andar preocupada com outras coisas, e já nem falo da crise. Preocupada, por exemplo, com isto http://www.greenpeace.org/international/campaigns/toxics/electronics/where-does-e-waste-end-up