Há já algum tempo que conclui que o sistema de Ensino - o português, evidentemente, que é o que conheço bem - está completamente desajustado. Os miúdos manobram as ferramentas informáticas com uma destreza verdadeiramente impressionante. As matérias das aulas e, sobretudo, a forma como são trabalhadas fazem de nós, por vezes, verdadeiros pitecos a tentar acender uma fogueira com duas pedras, tendo o isqueiro mesmo ali ao lado. Tenho usado as novas tecnologias nas minhas aulas, de forma pensada e reiterada. Contudo, tenho algumas dúvidas em relação à sua eficácia. É certo que os meus jovens alunos se maravilham perante o uso do quadro interactivo e é também certo que apresentar "O Sermão de Santo António aos Peixes" via documentário da RTP é muito mais interessante do que lê-lo apenas, ou até ouvi-lo inflamadamente declamado por Ary dos Santos. O meu problema reside no binómio eficácia/diversão. Há muitos anos atrás li um ensaio que defendia a ideia que nós não retemos nada daquilo que vemos na TV, que ver televisão era uma espécie de sono, cujos sonhos se iam desvanecendo . Eu creio que é isso que acontece nestas aulas interactivas e multimédia. Há poucas semanas, li que os jovens ingleses, numa grande percentagem, não sabiam quem era Adolf Hitler e pensavam que era um treinador de futebol. No entanto, basta-lhes um clique para terem acesso a 1 900 000 entradas sobre o Fuhrer.
Uma tragédia tem, por definição, um herói trágico, aquele que sem consciência do seu destino caminha inexoravelmente para a catástrofe. Eu não sei bem quem é o herói, mas quando peço aos meus alunos para irem ao centro de recursos seleccionar um soneto camoniano de que gostem, eles regressam frustrados e de mãos vazias, porque a Internet não está a funcionar, ou porque os computadores estão todos ocupados. "E então os livros??? Estão lá dezenas de livros de Camões à vossa espera!!" "Ó setora, por amor de Deus!".
Quem souber inglês e gostar de coisas bem esgalhadas é só ir a http://www.theatlantic.com/doc/200807/google
"And what the Net seems to be doing is chipping away my capacity for concentration and contemplation. My mind now expects to take in information the way the Net distributes it: in a swiftly moving stream of particles. Once I was a scuba diver in the sea of words. Now I zip along the surface like a guy on a Jet Ski." Nicholas Carr
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