sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O que é nacional é bom

Há palavras na língua portuguesa cuja expressividade resulta da combinação do conteúdo semântico com a face fonética. Perplexo é uma delas. Pois foi assim que fiquei quando vi a capa do I de hoje.

A acreditar nas notícias – que isto da comunicação social obriga à dúvida metódica – o ME descobriu que as crianças do 8º ao 12º, de 1700 escolas, em pleno ano 2010, não sabem raciocinar nem escrever. Pelos visto houve uma equipa qualquer que em função dos teste intermédios e da performance dos nosso jovens tirou estas conclusões. Bem sei que convém sempre dar um carácter científico aos relatórios e apresentar valores numéricos e percentagens e linguagem muito científica, mas escusavam de tratar dados de quase dois milhares de estabelecimentos de ensino: eu, por metade do preço, fazia o mesmo relatório, até fazia melhor. É que este centra-se em dados obtidos em situações de avaliação formal e não traduz o aspecto mais etnográfico da observação quotidiana, que também é uma metodologia de investigação muito válida. Todos nós sabemos que os alunos quase não lêem literatura (mas lêem imenso no Messenger e no Facebook), que não pensam e que muitas vezes os nossos esforços para os levar a activar os neurónios são objecto de motins, que são incapazes de organizar o raciocínio, porque está mais ou menos desactivado, e que escrever é uma tarefa que consideram apenas adequada a entidades sobrenaturais – basta propor uma actividade de escrita com 80 palavras que temos o coro da desaprovação a pedir aulas mais apelativas, com TICs e PowerPoints e Quadros Interactivos e tal. O que o relatório não contempla é que os alunos são, actualmente, de uma pobreza vocabular atroz, que aos 16 anos desconhecem que um mago é um mágico, que têm de memorizar que a água pode ser encontrada no estado sólido, líquido e gasoso e que acham que Mussolini foi um jogador de futebol… Os tempos dos nossos jovens são outros e nós é que ainda não mudámos o paradigma escolar. Eu não posso pensar que um aluno de 13 anos, que passou a tarde do dia anterior a jogar ao Grand Theft Auto, ganhando bónus por atropelar peões na passadeira e destruir caixas multibanco, entenda um texto poético. O que eu posso esperar – e isto não diz o relatório – é a arrogância da juventude e da ignorância que me vai perguntar porque é que tem que estudar aquilo, que não tem interesse nenhum e não se percebe nada e raisparta o Camões!

A minha perplexidade não vem destas estranhas e bizarras novidades. É que ouvi, aqui há dias, que os nossos alunos sabiam mais matemática, liam melhor e não sei quê… E parece que era um estudo internacional muito fiável e que também tinha muitos números e muitos testes. E agora? O que é nacional é bom?

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Nevoeiro

Porque me parece bem terminar 2010 com as palavras seculares de um dos maiores poetas universais, em forma de prece, em jeito de profecia.

"Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade!"
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!

Fernando Pessoa

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Feliz Natal



O cantinho natalício aqui do lar. Porque eu resisto ao consumismo da época, há anos que não compro prendas e escapo dos templos de compra e venda, mas não resisto ao espírito profundamente pagão deste pinheiro cheio de quinquilharia que celebra o solstício. E os dias aumentam dois minutos de luz quotidianamente. Daqui a um mês teremos mais uma hora de luz e as árvores já terão uns rebentinhos pequeninos à espera de aparecer em verde. Por tudo isto, FELIZ NATAL ao som da melhor música de Natal de todos os tempos.


Por aqui não

Não sei bem o que fazem aos moradores, mas exeplá-los parece-me uma coisa ameaçadora, ainda por cima de forma tão assumida...

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Viva a rainha de Copas!!!!

Sócrates propôs que questionássemos a realidade. É inevitável fazê-lo de forma quotidiana, sobretudo se lermos jornais.

Não pretendo ter uma sabedoria universal que me permita entender todas as minudências cósmicas e até sou capaz de depositar alguma crença na existência de universos paralelos ou alternativos em que as leis são de outra índole, contudo há coisas nesta lusa pátria que me deixam pasmada.
É sabido que o povo português é de brandos costumes e que tirando um ou outro esquema de sobrevivência - a que agora se chama depreciativamente corrupção, mas que é uma tradição oriunda dos confins da ancestralidade portucalense - ninguém se chateia muito com nada. Não nos chateamos com política, não nos chateamos com finanças, a educação também não é pra chatear, o sistema nacional de saúde também não chateia muito, a gente lá se vai orientando, e até temos uma expressão bestial - que alguém fez o favor de me assinalar - que traduz o nosso nacional porreirismo e a nossa aceitação do caos: "não percebo nada, mas pronto". Assim, tirando as questões de futebol que inflamam os corações e que nunca percebi porquê, mas pronto, somos todos uns porreiros. Incultos, ignorantes, cada vez mais iletrados (não há relatórios externos que me convençam), mas porreiros. Agora o que eu não entendo mesmo e nem sequer encerro com o "mas pronto" é esta história dos blindados. Para que diabos precisa a PSP de blindados? Prevêem-se motins? Se nem para a dita Cimeira eles foram necessários, e ainda bem, porque a empresa não os forneceu atempadamente. Blindados para a Polícia de Segurança Pública? Para quê? Para ir na caça à multa? Para fazer vigilância à porta das escolas? É certo e sabido que, se a alma lusitana se revoltar, será fazendo umas vigílias, a cantar o "Grândola Vila Morena", a assar umas castanhas e a beber umas cervejas. Nada de motins à laia francesa, nem grega. O povo é sereno, como dizia o outro. Esta malta saberá o que anda a fazer?

A rainha de Copas é que tinha razão: "Cortem-lhes a cabeça!"

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Há um estudo sobre isso, é o que eu sempre digo

Há estudos muito giros. Tenho pena que normalmente usem ratinhos para desenvolver experimentos (os cientistas fazem experimentos, o povo faz experiências), pois os ratinhos são uns bichinhos impecáveis que não mordem, não mentem, não congelam salários, nem fazem gestões ruinosas que convidam o FMI, que, como o PM diz que não vem, já deve ter data marcada para visitar o nosso quadrado de terra à beira mágoa plantado. (Rectângulo, OK.)
Depois de aturadas pesquisas, os cientistas descobriram nos seus experimentos que nascer no Verão ou no Inverno tem influência na personalidade que desenvolvemos ao longo da vida. Agora só falta provar que os psicopatas serial killers nasceram praí todos em Novembro ou Dezembro e é por causa da falta de luz do sol que deram no que deram. Claro que para cada teoria há uma contra-teoria, é a beleza da ciência, e eu também gosto desta opinião de Vargas Llosa, que diz que seríamos piores do que somos sem os bons livros que lemos. Esta não tem fundamento científico, pois falta o experimento e eu tenho para mim que deve ser difícil pôr ratos a ler bons livros.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Padel? O que é isso?

Há meia dúzia de anos atrás, desloquei-me de propósito ao El Corte Ingles de Vigo, com o firme propósito de adquirir umas raquetes de padel, cuja aquisição era inviável pelas lusas terras. Claro que eu desconhecia a existência desse desporto e comprei-as para jogar ténis de praia. Diverti-me imenso nesse Verão, mas depois abandonei-as, pois, quando voltei ao meu ténis a sério, a raquete a sério estava sobredimensionada e vi-me à rasca. Desde então, jogo 10 minutos de "ténis de praia" com as crianças e depois deixo-as entregues à sua sorte.
A primeira vez que ouvi falar em padel foi através de um espanhol muito simpático, que queria aulas de português, e que me explicou que esta modalidade tinha surgido devido à escassez de terreno para dotar determinados condomínios de verdadeiros courts de ténis. Assim, a raquete é curta e o campo é curto e a "pelota" tem pouco "rebote". Achei piada e arquivei o padel.
Para minha surpresa, descubro aqui que existe uma Selecção Nacional de padel, que esteve agora no México. 16 atletas, algumas velhas glórias. A Federação Portuguesas de Ténis no seu site diz que "O padel será integrado na Federação Portuguesa de Ténis a partir de 1 de Janeiro do próximo ano." Ora bem, se só para o ano é que esta "modalidade" faz parte desta Federação, quem é que arcou com as despesas? Fui ver preços ao site da TAP: só os vôos Lisboa-Cancun ficam por cerca de 4400 Euros, que se multiplicam por 16 atletas, mais 1 ou 2 treinadores. Isto dá 79200 Euros só em vôos!! Falta tudo o resto, sim porque imagino que, no mínimo, os atletas aufiram qualquer coisa pela semana que gastaram nisto. Quem pagou? Considerando que o Campeonato Nacional de Ténis nem sequer tem prize money, estes milhares de Euros podiam seguramente ser utilizados para vivificar uma modalidade a sério, digamos, o ténis, sei lá, em vez de subsidiar uma semana de férias no México, a jogadores de uma coisa inventada por empresários da construção civil com falta de espaço.
Considerando a crise, o desemprego, o congelamento de salários, a fome que existe neste país, estas coisas até me põem doente....

sábado, 4 de dezembro de 2010

Worldpress Photo

Sei que as fotos expostas traduzem o trabalho de fotógrafos profissionais nas mais variadas partes do mundo, mas ano após ano vejo o retrato da dor e da morte. Para algumas olhei de soslaio, como a de uma lapidação não sei onde, nem quis averiguar. Outras revoltaram-me, como a do jovem judeu a humilhar a senhora palestiniana, e outras lembraram-me que todas as nuvens escondem o sol...

Gostei desta: é um guarda-rios a apanhar a sua refeição.

E desta, só porque gosto deste tipo de fotografias.

O dia correu numa de GeoCaching sem a minha fiel Nikon, reduzida ao Nokia, que para um dia com esta luz acabou por se portar melhor do que esperava. É verdade que não é a máquina que faz o fotógrafo, mas hoje lembrei-me da minha primeira câmara, que comprei praí aos 18 anos, uma Welica, que fazia "tóing!" quando apertava o obturador, de um tempo em que tinha que controlar a velocidade (tinha 2!!) e a abertura na lente (fixa, de 50 mms e de plástico) e esperar até o rolo ser revelado para ver se tinha acertado nos valores e se os enquadramentos tinham resultado, por causa da maldita paralaxe... A coisa interessou-me na altura e continua a interessar. E ainda guardo a Welica, na casa da minha mãe, junto com todas as outras maquinetas que fui comprando ao longo dos tempos. Menos uma: uma Praktica Mtl5B, da Alemanha de Leste, do tempo em que isso existia, com umas esquisitíssimas e raríssimas lentes de rosca, que pesava uma tonelada e que me foi roubada junto com o carro. Foi a minha primeira reflex e tinha um ponto de focagem diabolicamente difícil.
A fotografia é uma arte mágica e é verdade que a máquina não faz o fotógrafo, mas que uma Nikon D80 permite tirar umas fotos in comparavelmente melhores do que uma Welica...


E do que um telemóvel, embora estas até estejam catitas.