domingo, 20 de novembro de 2011

Fim do dia Atlântico


Reconheci-te

I
Reconheci-te logo destruída
Sem te poder olhar porque tu eras
O próprio coração da minha vida
E eu esperei-te em todas as esperas.

II
Conheci-te e vivi-te em cada deus
E do teu peso em mim é que eu fui triste
Sempre. Tu depois só me destruíste
Com os teus passos mais reais que os meus.

Sophia de Mello Breyner Andresen in Dia do Mar

sábado, 19 de novembro de 2011

O nosso mar

Neste dia, em que o sol, contra todas as previsões, não nos abandonou, uma visita crepuscular ao Atlântico. Vale sempre a pena.

Dei-te a solidão do dia inteiro.

Na praia deserta, brincando com a areia,

No silêncio que apenas quebrava a maré cheia

A gritar o seu eterno insulto,

Longamente esperei que o teu vulto

Rompesse o nevoeiro.


Sophia de Mello Breyner

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Dia medieval


Dias de levar a miudagem para fora da escola e tomar contato com o nosso património, percorrer as nossas maravilhosas vias rápidas, ganhar mais uns cabelos brancos e acentuar o tamanho das olheiras. Depois chegar a casa, com uma enxaqueca e descobrir que muito possivelmente se avizinha mais um corte no vencimento. Começa mesmo a ser tempo de ponderar até que ponto o nosso património realmente nos prende a este jardim à beira-mar plantado e se as nossas maravilhosas vias rápidas não serão de facto o melhor caminho para rapidamente nos pormos daqui para fora. Sopram ventos de fome, de peste e de guerra. Hoje como outrora. Talvez seja a Hora.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Dia de ir à praia

Dia de fazer uma pausa em tudo e passear pelas praias mais bonitas da Europa, ali, onde o sol bate nas águas. Maré morta. Gaivotas em terra e vento sul. Não vi procelárias, mas espero procelas.
Procelária

É vista quando há vento e grande vaga
Ela faz o ninho no rolar da fúria
E voa firme e certa como bala

As suas asas empresta à tempestade
Quando os leões do mar rugem nas grutas
Sobre os abismos passa e vai em frente

Ela não busca a rocha o cabo o cais
Mas faz da insegurança a sua força
E do risco de morrer seu alimento

Por isso me parece a imagem justa
Para quem vive e canta no mau tempo.

Sophia de Mello Breyner

sábado, 22 de outubro de 2011

Homens e máquinas


Muito antes da divulgação de um aparelhinho fabulosos chamado Gameboy e dos fantásticos jogos da Zelda, os adolescentes dos eighties tiveram acesso ao extraordinário Cubo Mágico. Gastei horas para descobrir a solução desse puzzle e, numa altura em que éramos todos tecnologicamente uns pitecos e não havia internet com walkthoughs, acabei por comprar um livrinho de soluções, com diagramas e setinhas, que me permitia pôr o cubo todo direitinho em segundos. Não me lembro exatamente quantos, mas ainda eram alguns. Aqui há tempos pediram-me que fizesse o cubo, mas já não me lembro dos movimentos, não encontro o raio do livrinho e os walkthroughs do youtube são muito complicados. A notícia do JN sobre o record mundial de resolução do Cubo Mágico apresenta-nos um robot a resolver o cubo em 5,32 segundos, derrubando o humano que detinha o anterior record de 5,66 segundos. Por mim, vou procurar o livrinho, que não me entendo com o youtube. Mas antes vou pegar na minha Nintendo 3DS e jogar à Zelda. Ai as máquinas!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Hoje vi-o de longe

E pensei "Que rico fim de tarde que deve ter estado nas praias mais bonitas da Europa!". Mas, apesar do parco vencimento e das notícias de cortes e mais cortes e impostos e mais impostos, a gente tem que trabalhar, para que haja onde cortar e onde taxar e por isso nem sempre a nossa "alma atlântica" pode usufruir daquilo que o Atlântico nos dá. Saí da escola às 19.40, é dia de jogo no Dragão e no trânsito nervoso da VCI tive saudades dos dias de verão que não vivi. Recuso integrar a depressão coletiva e aponto a "minha luneta de uma lente só" àquilo que temos de belo e de nosso. Pelo menos ainda não estamos na China e ainda podemos ter alguma fé na alma lusitana.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Que diabo!

A notícia do JN sobre Van Gogh comprova a recente tendência da modernidade que aponta para o princípio da incerteza aplicado ao quotidiano. Nada pode ser tomado como verdadeiro, nem uma morte por suicídio.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Faz hoje 30 anos

Sobre o Concerto e Central Park.
Este foi o álbum que mais ouvi durante a minha adolescência, religiosamente preservado na sua capinha de plástico. Antes de Johnny Rotten e Sid Vicious, de Jello Biafra e do grande Peter Murphy, que chegaram mais tarde em total ruptura com Central Park e Mrs. Robinson.
Voltas que a vida dá.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Ora finalmente...

A minha escola, que já passou dos 50, foi "intervencionada" em 2008/2009. Sofremos um inferno de pó, de lama, de barulhos ensurdecedores, com alunos a fazer testes em monoblocos, acompanhados pelo som do tractores. Tive que pedir a um dos trabalhadores que não martelasse à porta do meu contentor, por respeito a "'Os Lusíadas". Quando regressei à escola, em Setembro de 2009, ela estava realmente lindíssima e tive direito a uma visita guiada e tudo. As aulas começaram e aí é que foi: ao fim de uma semana os puxadores das portas estavam avariados, num Setembro de canícula não se podia abrir as maravilhosas janelas insonorizadoras, o ar "forçado" soprava gelado nas costas dos alunos das filas de trás, não havia um cabide, nem sequer na casa de banho, e não temos placares nas salas de aula para os jovens pendurarem os trabalhos. Os quadros interactivos que os miúdos ganharam no Sapo Challenge não estão ligados só estão os que a PE instalou, a quantidade de pó acumulado nos tectos falsos provoca alergias até a quem não tinha alergias, não se pode colar um papel na parede, nem um calendário, os jardins ficaram a cargo da Direcção e a PE explora tudo na escola. Nem um manjerico se pode pôr...
Auditoria? Desde que seja feita no Magalhães...

sexta-feira, 2 de setembro de 2011