sábado, 10 de julho de 2010

Tretas!


Os resultados dos Exames Nacionais foram publicados na Quarta. Fiquei toda satisfeita, porque os meus cachopos lembraram-se das vírgulas todas, dos acentos e de outros pequenos detalhes que afectam negativamente a classificação das provas e para os quais chamei copiosamente a atenção ao longo de todo o ano lectivo. As notas que obtiveram foram normalíssimas, as variações foram mínimas, poucas décimas, ou um valor, havendo raríssimas excepções. A prova 639 era facílima: o excerto de "Os Lusíadas" é trabalhado na aula, as perguntas iam desde resumir a estrofe até apontar os sentimentos do poeta. Não havia rigorosamente nada de novo neste Exame: a questão B, é mais do que repetitiva. De facto, instruções como exponha a sua opinião sobre a importância da noite em "Felizmente Há Luar!"; exponha a sua opinião sobre a importância das sensações na poesia de Caeiro, ou exponha a sua opinião sobre o comentário de X acerca da obra XPTO são moeda corrente nos exames nacionais e, claro está, nos testes que os alunos realizam. A reflexão final que é solicitada aos examinandos é presença constante em todos os exames desde 2005. Os alunos são treinados na redacção deste texto, que no fundo assenta numa fórmula de produção bastante elementar, como já afirmei noutros posts. Não gosto muito de defender estas provas, que acho particularmente primárias, mas este comentário deixa-me perplexa. Ou é mau jornalismo, ou quem o fez é terrivelmente ignorante. Comentar " a importância de Blimunda na consecução do sonho de voar" na obra de Saramago, "Memorial do Convento" é básico. A obra faz parte do Programa do 12º ano, esta é uma questão fulcral da acção, nem é preciso ler o romance para saber isto, é um ponto que aparece em tudo quanto é livrinho de apoio. Um aluno incapaz de resolver esta questão é mau. Não interessa porquê: ou porque não estudou, ou porque o não ensinaram. É mau. Ponto final.
O grande problema, na minha opinião, é que há um conjunto bastante amplo de docentes que faz tábua rasa da ideia, que me parece bastante relevante, de o 12º ano ser de facto e só uma antecâmara do Ensino Superior, e que os seus deveres para com os alunos passam de forma bastante incisiva pela preparação do seu sucesso em Exame. Isso foi visível nos Exames que corrigi: em alguns envelopes os alunos aplicam sistematicamente as fórmulas e as notas andam entre os 19 e os 16, e noutros é o vazio, aparecendo classificações que andam ente 0 7 e 0 11. É inacreditável: os examinandos desconhecem a estrutura de um texto, não sabem apresentar argumentos e - apesar de, por exemplo, a instrução indicar ser obrigatório sustentar o argumento num exemplo - não oferecem exemplos nos seus textos. Eu sei que há jovens com muitas dificuldades de aprendizagem, mas isto é primário. A acreditar nas notícias, a média nacional de Português desceu para 10. É de loucos. É mais de loucos dizer que a culpa é do Exame, pois ele até estava bem feitinho. E era facílimo. Deixem-se de tretas!

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