terça-feira, 20 de julho de 2010

Isto tem tudo imensa piada



Desde há três anos para cá que tento explicar a todos os que estão em situação de me ouvir que os Exames Nacionais trazem questões que não integram os Programas em vigor. O ME, no site do GAVE, tem o cuidado de, todos os anos lectivos, disponibilizar um conjunto de informações sobre as provas nacionais. A referente ao Português, disponível aqui, diz claramente, e sic, "A prova de exame tem por referência o Programa de Português de 12.º ano." (p. 2) Eu conheço bem o Programa, já o li integralmente, nas suas 77 páginas, já fiz a sua exegese (é um termo que aprendi no baptizado do meu afilhado...) e a estrutura sintáctica da frase não é nunca contemplada nos conteúdos declarativos que integram o ciclo de três anos do estudos secundário. De facto, isto é estudado no Ensino Básico, até ao 9º ano, mas não no Secundário. Há coisa de 3 anos apareceu uma pergunta sobre estruturas predicativas. Reclamei no GAVE, disseram que sim senhora, não era no Programa e passaram por cima. A Prova 639 da segunda fase tem duas questões de sintaxe: classificação de orações subordinadas relativas e funções sintácticas de constituintes, valem no total 1 valor. Não são do Programa. Este indica como conteúdo o valor semântico das orações relativas e não contempla a análise de constituintes. Sintaxe e semântica são sem dúvida complementares em muitos aspectos, mas têm objectos de estudo e terminologia diversa. Por outro lado, é certo que os alunos aprendem o que é uma estrutura de inversão no 7º ano e devem distinguir o Sujeito do Complemento Directo, mas se se pretende uma Prova que avalie os conhecimentos adquiridos à luz de um Programa, não se devem colocar questões sobre aqueles obtidos meia dúzia de anos antes. Acho eu. Mas devo ser a única. Talvez quando os Exames vierem recheados de perguntas de sintaxe, porque são aparentemente mais rigorosas do que as de semântica e pragmática, que tirando um ou dois aspectos que aparecem sempre nas provas nacionais, são de difícil abordagem, alguém reclame. E não entendo: há gente paga para fazer os Exames, umas equipas misteriosas que ninguém sabe quem é. Estes anónimos não lêem os Programas em vigor? Porque do Português ninguém fala, mas a coisa alastra-se às outras áreas. Há, contudo, uma explicação plausível para estas aparentes trapalhadas que não tem nada a ver com incompetência nem distracção: é que os jovens se habituem a esperar o inesperado. Está bem pensado.



Agora é Verão, entro de férias daqui a dois dias e vou ver o mar, que é tão bonito.


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