quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Hoje apeteceu-me um poema


O ardor dos dias verdadeiros
Resiste às ondas de solidão e de frio.
Aqui estamos no vazio do tempo por viver
E no céu que se escurece o sal das águas que não caem
Traz à memória o sol sereno e limpo do primeiro dia.
Agora aqui no silêncio dos dias
Espero ainda pela luz da redenção.
E nesta praia com arestas dissolvidas
Pelo sol do frio do outono
Olho estes passos nesta areia que não passa
E ainda te vejo deus das ondas e da luz
Completo círculo de imensidão e de sonho
Num tempo antigo de verdade inteira.
E ainda te ouço. E ainda te espero.

E uma das minhas fotos preferidas, com muitas flores, muita luz e muita alegria. Porque tudo isto existe e convém não esquecer. 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

E eu que reclamava!....

Que calor!! dizia Que saudades do fresquinho do Porto, daqueles dias cinzentos!!! Pois...

Hoje está um daqueles dias em que o frio até se vê e o prognóstico para os próximos dias é de chuva. Assim mesmo, ela mesmo, sem metafísica. E, nestas alturas, com o termoventilador a aquecer o ambiente e uma resma de composições para corrigir, o pensamento voa até aos dias de verão, que se antecipam ansiosamente. 




Prefiro rosas, meu amor, à pátria,
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude. 

Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo. 

Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre, 

Se cada ano com a Primavera
As folhas aparecem
E com o Outono cessam?
E o resto, as outras coisas que os humanos
Acrescentam à vida,
Que me aumentam na alma? 

Nada, salvo o desejo de indiferença
E a confiança mole
Na hora fugitiva.


Ricardo Reis


sábado, 17 de novembro de 2012

Não é troika, é doika...

Duas duma vez?! Nunca tal me tinha acontecido. E sem subsídios... é no que dá escolher desportos que precisam de material de desgaste rápido. 

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Dia de greve geral

Sei que a vida está difícil, que ter estas autoestradas todas e ter um computador em cada sala de aula custou um dinheiro que não tínhamos e que agora temos que pagar o que pedimos emprestado. Sei isto tudo muito bem, mas estou farta de que me metam a mão ao bolso e me obriguem a fazer o meu trabalho. o da secretaria, o da senhora das fotocópias e o de mais 2 professores. Mais trabalho e cada vez menos paga. Organizem-se que eu estou farta de pagar as portagens das autoestradas e das SCUTS por onde ando e o empréstimo para a construção de todas por onde não circulo e, sobretudo, estou farta do discurso "temos sorte, temos emprego". Qualquer dia pago para ter a sorte de ter emprego. Aliás, eu acho que até já faço isso. E nem sequer tenho garantias de o continuar a fazer.

 Dez horas da manhã; os transparentes
Matizam uma casa apalaçada;

Pelos jardins estancam-se as nascentes,
E fere a vista, com brancuras quentes,
A larga rua macadamizada.



Rez-de-chaussée repousam sossegados,

Abriram-se, nalguns, as persianas,
E dum ou doutro, em quartos estucados,
Ou entre a rama dos papéis pintados,
Reluzem, num almoço, as porcelanas.



Como é saudável ter o seu conchego,

E a sua vida fácil! Eu descia,
Sem muita pressa, para o meu emprego,
Aonde agora quase sempre chego
Com as tonturas duma apoplexia.

IN Num Bairro Moderno, Cesário Verde


quinta-feira, 1 de novembro de 2012

No sítio do costume, a 3D



Entre uma chuvada e outra, deu para dar um passeio com a bichinha pelas areias e testar a minha nova câmara. Amanhã, volta-se à escolinha, aos horários e às campainhas e aos meninos desmotivados, que não abrem um caderno e esperam que as boas notas se materializem magicamente.  Eu estou convicta que estamos numa época de transição e a escola vai ter de se adaptar à Geração Google. Estes miúdos não conseguem estar concentrados mais de 15 mins. e nós insistimos em mandá-los ler coisas como "Os Maias". É uma sensação de inutilidade que se cola a nós e que parece difícil de contrariar e todos acabamos descrentes naquilo que fazemos. Eles, porque nos acham obsoletos, e nós porque os achamos incooltos, desinteressados e desinteressantes. Haja sol para usufruir das energias marítimas.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O.K. chegou o inverno

Estou aqui sentada a preparar uma aula de introdução ao estudo do "Sermão de Santo António aos Peixes", depois de ter redigido uma participação disciplinar, enquanto a chuva cai copiosamente lá fora e na TV, depois de referências à crise, ao Gaspar, ao Portas e ao equilíbrio dinamicamente instável do governo, discute-se os maus resultados da seleção de futebol. Fui ao accuweather, mas só vi o ícone do sol lá para dia 1 de novembro. Tentei animar-me, contando os meses que faltam para o início de verão, mas, quando cheguei a 6, desanimei e parei a contagem. Tenho os pés frios, uma constipação que não me larga e uma dor de cabeça há 5 dias. E ainda tenho um dia de escola pela frente!

Só não deprimo, porque, como diz Mia Couto, a infelicidade dá muito trabalho e eu sou feliz por pura preguiça.  

domingo, 7 de outubro de 2012

Dia que não foi dia




Tenho uma grande constipação, 
E toda a gente sabe como as grandes constipações 
Alteram todo o sistema do universo, 
Zangam-nos contra a vida, 
E fazem espirrar até à metafísica. 
Tenho o dia perdido cheio de me assoar. 
Dói-me a cabeça indistintamente. 
Triste condição para um poeta menor! 
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor. 
O que fui outrora foi um desejo; partiu-se. 

Adeus para sempre, rainha das fadas! 
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando. 
Não estarei bem se não me deitar na cama. 
Nunca estive bem senão deitando-me no universo. 

Excusez un peu... Que grande constipação física! 
Preciso de verdade e da aspirina. 


Álvaro de Campos, in "Poemas"


Saudades destes dias, em que as horas derretiam suavemente ao sol e o mar acompanhava o ritmo da ausência de propósitos. Gripes e constipações têm pouca poesia e muitos inconvenientes.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Já não vejo as andorinhas por cá

Pelos sítios por onde passeio a cadela, ali na praia da Madalena, há umas zonas de mato e, ultimamente, de lindíssimas plumas das pampas, por onde voam, cantam, chilreiam e se deixam admirar  vários tipos diferentes de passarada. Há locais em que os bandos de andorinhas são imensos e nos acompanham em gritarias e voos tangenciais. Hoje custou-me a chegar lá: a VCI cheia de carros, acidentes e um dia na escola repleto de reuniões de utilidade duvidosa. Se não fosse a cadela, provavelmente teria ficado em casa, recolhida a ver uma qualquer série no AXN, mas como lhe criei esta rotina de ir até à praia no final do dia, lá arranquei para Gaia. Demorei mais de meia hora, apanhei uma nortada gélida que anuncia o inverno e andei por lá pouco tempo. Não vi andorinhas, nem as ouvi, mas o universo brindou-me com um céu digno de melhor máquina.
  Não sei se, nos dias pequenos e chuvosos que se aproximam, vou conseguir manter este hábito, mas acho que devia. Talvez noutros poisos que não impliquem atravessar o rio Douro e acompanhada por uma máquina melhor.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Dia de voltar à escolinha

Para um ano letivo que se prefigura difícil, com turmas gigantescas e horas de trabalho intermináveis e previsivelmente pouco rentáveis. Enfim, as conjunturas mudam e, nestas décadas de profissão que já experimento, já testemunhei várias. Esta é, contudo, das piores, por isso as coisas só podem melhorar.