Sei que a vida está difícil, que ter estas autoestradas todas e ter um computador em cada sala de aula custou um dinheiro que não tínhamos e que agora temos que pagar o que pedimos emprestado. Sei isto tudo muito bem, mas estou farta de que me metam a mão ao bolso e me obriguem a fazer o meu trabalho. o da secretaria, o da senhora das fotocópias e o de mais 2 professores. Mais trabalho e cada vez menos paga. Organizem-se que eu estou farta de pagar as portagens das autoestradas e das SCUTS por onde ando e o empréstimo para a construção de todas por onde não circulo e, sobretudo, estou farta do discurso "temos sorte, temos emprego". Qualquer dia pago para ter a sorte de ter emprego. Aliás, eu acho que até já faço isso. E nem sequer tenho garantias de o continuar a fazer.
Dez
horas da manhã; os transparentes
Matizam uma casa apalaçada;
Pelos jardins estancam-se as nascentes,
E fere a vista, com brancuras quentes,
A larga rua macadamizada.
Rez-de-chaussée repousam
sossegados,
Abriram-se, nalguns, as persianas,
E dum ou doutro, em quartos estucados,
Ou entre a rama dos papéis pintados,
Reluzem, num almoço, as porcelanas.
Como
é saudável ter o seu conchego,
E a sua vida fácil! Eu descia,
Sem muita pressa, para o meu emprego,
Aonde agora quase sempre chego
Com as tonturas duma apoplexia.
IN Num Bairro Moderno, Cesário Verde
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