Vi as águas
os cabos vi as ilhas
E o longo
baloiçar dos coqueirais
Vi lagunas
azuis como safiras
Rápidas aves
furtivos animais
Vi prodígios
espantos maravilhas
Vi homens
nus bailando nos areais
E ouvi o
fundo som de suas falas
Que já
nenhum de nós entendeu mais
Vi ferros e
vi setas e vi lanças
Oiro também
à flor das ondas finas
E o diverso
fulgor de outros metais
Vi pérolas e
conchas e corais
Desertos
fontes trémulas campinas
Vi o rosto
de Eurydice das neblinas
Vi o frescor
das coisas naturais
Só do Preste
João não vi sinais
As ordens
que levava não cumpri
E assim
contando tudo quanto vi
Não sei se
tudo errei ou descobri
Sophia de Mello Breyner - Navegações