O burro é uma espécie em vias de extinção. O que é uma pena, pois parece que é um animal inteligente e meigo. Durante séculos, acompanhou o homem, ajudando-o, sobretudo nos trabalhos agrícolas, e agora a implementação da maquinaria tornou-o irrelevante e, para variar, foi abandonado. Para a preservação da espécie, em particular da Raça Asinina de Miranda, que a União Europeia entendeu ser uma espécie protegida, o Estado concede subsídios a todos os que adoptarem e tratarem destes bichinhos. Contribuir para a manutenção biodiversidade do nosso planeta é um dever de todos nós, pelo que acho bem. Há contudo uma espécie de burro que, no meu entender, nós não deveríamos preservar.
Ao contrário do Equus Asinus, este não é inteligente nem meigo. É uma criatura de maus modos, que responde em linguagem vicentina sempre que interpelada sobre o seu comportamento. Não ajuda o homem, vandaliza e destrói, sempre que pode e, no meu entender, não deveria ser uma espécie a financiar no sentido de contribuir para a sua conservação. Mas é. Os cursos de formação profissional e os de educação e formação de adultos são uma forma de subsidiar uma espécie diferente de equus asinus, cuja preservação contraria toda a lógica. Os "estudantes" que os frequentam são os alunos do insucesso, os maus alunos, aqueles que não aprendem e, na maioria dos casos, não querem aprender. Não adianta perder tempo a descrever uma situação e um conjunto de comportamentos que são indescritíveis, vale a pena somente dizer que estes alunos, assim que passam para a formação profissional, deixam de ter insucesso, ainda que muitas vezes nem às aulas venham. É uma coisa fabulosa. E são milhares de alunos, mais do que os burros, coitados, que até estão quase extintos.
Já dei formação profissional em empresas, em centros de formação, em escolas de formação.... A atitude dos jovens formandos e o comportamento dos directores de todas as instituições foi sempre coerente com a ideia da educação para o mundo do trabalho, coisa que não acontece nas escolas públicas. Sei de casos de alunos que se inscrevem em determinados tipos de curso para conseguirem obter classificações superiores àquelas que obteriam nos cursos regulares. Com um explicador, conseguem fazer o Exame Nacional da disciplina específica para aceder à Universidade e, com este esquema, ultrapassam centenas de colegas que seguem a via de prosseguimento de estudos, onde, apesar de tudo, o ensino ainda tem alguma exigência. Estes jovens não pagam rigorosamente nada. Nem materiais, nem propinas, nem visitas de estudo. Nada. Há outros alunos que andam dois ou três anos a arrastar-se e a infernizar a vida de colegas, professores e funcionários e depois mudam de curso e passam mais dois ou três anos de subsídio a infernizar outros colegas, outros professores e outros funcionários. São milhares destes espécimes e a contagem tende a crescer, pois funcionam como estímulo para outros.
Ouvi, aqui há anos, que é o dinheiro da Formação Profissional que sustenta, em grande parte, o ME. Não sei se é verdade, ou não. Há um conto tradicional de que gosto muito, que narra a história de um príncipe que nasceu com uma anomalia genética: orelhas de burro. Este segredo foi muito bem mantido e só o barbeiro real, por força da profissão, o conhecia. Como manter um segredo é das coisas mais difíceis para a humanidade, o barbeiro cavou um buraco e berrou lá para dentro o seu segredo, ficando mais aliviado e enterrando para sempre a verdade sobre as orelhas do filho do monarca. Só que sobre o buraco cresceu um canavial, e as canas foram utilizadas para fazer flautas, mas só tocavam uma música, que dizia "o príncipe tem orelhas de burro...". Se ainda há segredos neste país, as canas não devem tardar, talvez fiquemos a saber que príncipes têm que orelhas. Se é que isso interessa a alguém. Se calhar não, é mais mutante, menos mutante...
1 comentário:
Que venha uma ventania! Que venha um furacão para soprar essas benditas canas! E já vem tarde!
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