sexta-feira, 27 de março de 2009
Coisas que dão pequenas alegrias... nã, são mesmo grandes alegrias
Duas semanas sem adolescentes, duas semanas sem problemas de adolescentes, duas semanas sem os problemas dos pais dos adolescentes, duas semanas sem as malditas obras na Aurélia, duas semanas sem toque de campainha, duas semanas sem o pó das obras, duas semanas sem tractores a fazer pipipipi, duas semanas sem britadeiras a deitar paredes a baixo, duas semanas sem o cheiro nojento dos contentores - ou monoblocos - duas semanas sem testes para corrigir, sem trabalhos para avaliar, sem o Novo Estatuto do Aluno, sem medidas correctivas, sem provas de recuperação, sem alunos depressivos e em fuga da escola por sobrecarga de medidas correctivas. Duas semanas sem ter de ensinar quando se usa o c com cedilha... Duas semanas sem pensar em grelhas, nem na Lurditas.
Duas semanas sem a insanidade que é a Escola em 2009.
quarta-feira, 25 de março de 2009
Coisas que se embaciam
Aos poucos quanto passa se embacia.
E, sob o acto de embaciamento,
a idade se ilumina,
conferindo ao ar do tempo
aquela limpa douração esquecida
ao fundo do cristal. E envelhecendo.
Por isso embaciar-se traz acima
uma outra luz. É instrumento
daquela espécie de sabedoria
que envelhece no invólucro, à medida
que ver se timbra na ampliação de dentro.
segunda-feira, 23 de março de 2009
Coisas poéticas, mas tristes
Requiem por um cão
Cão que matinalmente farejavas a calçada
as ervas os calhaus os seixos e os paralelipípedos
os restos de comida os restos de manhã
a chuva antes caída e convertida numa como que auréola da terra
cão que isso farejavas cão que nada disso já farejas
Foi um segundo súbito e ficaste ensanduichado
esborrachado comprimido e reduzido
debaixo do rodado imperturbável do pesado camião
Que tinhas que não tens diz-mo ou ladra-mo
ou utiliza então qualquer moderno meio de comunicação
diz-me lá cão que faísca fugiu do teu olhar
que falta nesse corpo afinal o mesmo corpo
só que embalado ou liofilizado?
Eras vivo e morreste nada mais teus donos
se é que os tinhas sempre que de ti falavam
falavam no presente falam no passado agora
Mudou alguma coisa de um momento para o outro
coisa sem importância de maior para quem passa
indiferente até ao halo da manhã de pensamento posto
em coisas práticas em coisas próximas
Cão que morreste tão caninamente
cão que morreste e me fazes pensar parar até
que o polícia me diz que siga em frente
Que se passou então? um simples cão que era e já não é
Ruy Belo
domingo, 22 de março de 2009
Coisas de poesia
Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue
Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos
Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente
Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer
Mia Couto
sábado, 21 de março de 2009
Coisas que não se entendem
As Pringles deve ser a única comida à qual eu não consigo mesmo resisitir. E comer uma é caminho para comer aí umas quinze. E nem sequer ficava com problemas de consciência, porque aquilo é mesmo bom. Aliás, estas batatas fritas são geniais: todas iguazinhas, direitinhas e dentro de um tubinho cilíndrico que evita que fiquem todas partidas e no fim se tenha que mastigar uns bocadinhos desagradáveis. E não é que venho a descobrir que não são batatas fritas?
quinta-feira, 19 de março de 2009
Coisas poéticas
Vivo na esperança de um gesto
Que hás-de fazer.
Gesto, claro, é maneira de dizer,
Pois o que importa é o resto
Que esse gesto tem de ter.
Tem que ter sinceridade
Sem parecer premeditado;
E tem que ser convincente,
Mas de maneira diferente
Do discurso preparado.
Sem me alargar, não resisto
À tentação de dizer
Que o gesto não é só isto...
Quando tu, em confusão,
Sabendo que estou à espera,
Me mostras que só hesitas
Por não saber começar,
Que tentações de falar!
Porque enfim, como adivinhas,
Esse gesto eu sei qual é,
Mas se o disser, já não é...
Reinaldo Ferreira
terça-feira, 17 de março de 2009
Coisas que se repetem
sábado, 14 de março de 2009
Coisas de fim-de-semana
Diz-me devagar coisa nenhuma, assim
como a só presença com que me perdoas
esta fidelidade ao meu destino.
Quanto assim não digas é por mim
que o dizes. E os destinos vivem-se
como outra vida. Ou como outra solidão.
E quem lá entra? E quem lá pode estar
mais que o momento de estar só consigo?
Diz-me assim devagar coisa nenhuma:
o que à morte se diria, se ela ouvisse,
ou se diria aos mortos, se voltassem.
Jorge de Sena, Poesia vol. I e II, edições 70, Lisboa 1988
segunda-feira, 9 de março de 2009
Coisas que a gente demora a aprender
domingo, 8 de março de 2009
sábado, 7 de março de 2009
quinta-feira, 5 de março de 2009
Coisas que persistem
I have climbed the highest mountain
I have run through the fields
Only to be with you
Only to be with you
I have run, I have crawled
I have scaled these city walls
These city walls
Only to be with you
But I still haven't found what I'm looking for
But I still haven't found what I'm looking for
I have kissed honey lips
Felt the healing in her fingertips
It burned like fire
This burning desire
I have spoke with the tongue of angels
I have held the hand of a devil
It was warm in the night
I was cold as a stone
But I still haven't found what I'm looking for
But I still haven't found what I'm looking for
I believe in the kingdom come
Then all the colors will bleed into one
Bleed into one
Well, yes, I'm still running
You broke the bonds and you
Loosed the chains
Carried the cross
And my shame
All my shame
You know I believe it
But I still haven't found what I'm looking for